Do mentor do Google a brasileiros: por que os barcos tornaram-se refúgio seguro durante a quarentena

Por: Redação -
06/04/2020

Durante a última semana, virou polêmica a notícia de que donos de iates mundo afora decidiram passar a quarentena “al mare”, em meio à pandemia de Covid-19. O empresário David Geffen, fundador do gigante estúdio DreamWorks, postou uma foto de seu megaiate (o Rising Sun, de 452 pés, que já recebeu hóspedes como Barack Obama e Jeff Bezos, criador da Amazon) singrando o mar das Ilhas Granadinas, no Caribe, com a seguinte legenda: “Evitando o vírus. Fiquem seguros.”

Megaiate Rising Sun, de 452 pés

Imediatamente, Geffen recebeu uma enxurrada de críticas pelas redes sociais, com as pessoas chamando seu post de “vergonhoso” e seu autor de “insensível” e “sem noção”, entre outros adjetivos menos carinhosos. Não deu outra: ele excluiu sua conta da rede social em questão.

A dúvida que fica é: se para conter o surto de coronavírus é legítimo se isolar em uma casa de campo ou de praia, independentemente se é uma mansão ou uma casa padrão de condomínio à beira-mar, porque não fazer isso em um barco, atracado em um píer e longe das aglomerações de pessoas? O comparativo não vale apenas para os afortunados. Vale para todos. De donos de barcos de 30 pés a megaiates de incontáveis metros.

Leia também: Vitamina D, abundante nos passeios de barcos, pode ter papel importante na prevenção e combate ao coronavírus

O distanciamento social é a ferramenta mais eficaz para evitar a propagação do novo coronavírus, segundo autoridades sanitárias de todo o mundo. E o mar é um dos lugares mais adequados para isso. Não há lugar mais protegido do que nas acomodações de um barco, um tipo de isolamento natural, cujo destino, inclusive, seu comandante pode alterar, caso sinta a aproximação de vizinhos ou se surgir algum risco de o vírus chegar perto. Pela característica do ambiente e pela pequena densidade de pessoas, o mar é praticamente imune ao avanço do novo coronavírus. Ou seja, se ficar recolhido em casa ou em um barco, estaremos obedecendo a regras do mesmo jeito.

Leia também: Marinas do grupo BR Marinas funcionam sem restrições, apenas com operação reduzida

Logo após o anúncio de David Geffen, outros amantes dos mares decidiram seguir seus conselhos e se abrigar em suas embarcações, para evitar a pandemia. A lista dos que optaram passar a quarentena no mar inclui personalidades da moda, da tecnologia e do esporte.

O empresário Tommy Hilfiger, da grife homônima, passa a quarentena em St. Vincent, no Caribe, a bordo do superiate Flag, de 205 pés. Também no Caribe, o russo Roman Abramovich, dono do clube Chelsea, da Inglaterra, isolou-se no megaiate Eclipse, de intermináveis 535 pés, que atualmente se encontra nas águas de St. Barts. Ainda nas águas caribenhas, o co-fundador do Google, Sergey Brin, flutua a bordo Dragon Fly, de 240 pés e muitas suítes.

Superiate Dragon Fly, de 240 pés, do co-fundador do Google, Sergey Brin

Por sua vez,  o banqueiro e empresário Ron Perelman recolheu-se a bordo do megaiate C2, de 281 pés, que está ancorado o Golfo do México, enquanto Andrey Guryev, vice-presidente do sindicato dos químicos da Rússia, navega por Antígua a bordo do seu Alfa Nero, de 269 pés, cuja popa lembra a de um pequeno transatlântico: tem quase 300 m², ou cerca de um quarto do comprimento do próprio barco, que é de 82 metros.

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No Brasil, não são poucos os que optaram por passar a quarentena isolados em seus próprios barcos, evitando contato com o coronavírus, mas sem esquecer de levar à risca as recomendações de higiene a bordo, como determinam as autoridades de saúde.

É o caso do empresário Pedro Dias, que ao lado da noiva, Marcelle Macario, decidiu trocar o apartamento em São Paulo pelo aconchego daquela que ele chama de sua segunda casa, uma lancha de 36 pés, atracada na Porto Marina Astúrias, em Guarujá, no litoral paulista. Junto, foi a mascote do casal: a cadelinha Laninha. “Em São Paulo, eu moro com a minha mãe, que tem 60 anos, e um andar acima mora o meu avô, de 84 anos. Então, achei mais seguro ficar no barco, uma Intermarine Oceanic 36, que apesar de não ser tão grande, oferece um mínimo de conforto para o casal. “Tranquilamente, podemos passar aqui mais uns 30 ou 40 dias a bordo. E muito feliz”, conta Pedro.

O casal Pedro Dias e Marcelle Macario e a mascote Laninha

Outro que seguiu esse roteiro (incluindo também uma cachorrinha na tripulação, a Tiffany) foi o empresários Paulo Amato, que, ao lado da namorada, Gabriele Morais, está a bordo de uma lancha Ferretti 55, que também tem como base a Marina Astúrias, em Guarujá. “Estamos embarcados desde o dia 19 de março. Optamos por ficar na lancha por ser o local onde ficamos mais isolados de tudo e todos, especialmente dos meus pais, que estão na faixa dos 80 anos. Além disso, na marina, há uma área tranquila para fazer caminhadas. Juntando todos esses fatores, acho que fizemos a melhor opção”, explica Paulo, que, durante esse período, dispensou o marinheiro das tarefas a bordo.

O casal Paulo Amato e Gabriele Morais e a mascote Tiffany, durante viagem no começo de 2020, antes da pandemia do coronavírus

Leia também: Barcos de esporte e recreio não estão proibidos de navegar em qualquer ponto da costa ou em águas interiores

Em Santa Catarina, um dos navegadores que adotaram a vida a bordo como receita para os dias de isolamento é Antônio Greshi, que ao lado da mulher, Gisele, está há dois meses bordo de um iate de 83 pés, baseado na Marina Itajaí. “Eu estava fazendo a manutenção da rotina do meu barco, chamado Cristina X, quando veio a proibição da abertura do comércio. Por conta disso, resolvemos ficar na marina mesmo, onde nos sentimos seguros em relação à pandemia, porque não há circulação de pessoas aqui, seja no píer ou na marina. E a bordo nos sentimos em casa”, explica Antônio, para quem a rotina a bordo é praticamente a mesma de quando está em terra.

Antônio Greshi ao lado da mulher, Gisele, a bordo do Cristina X, atracado na Marina Itajaí, em Santa Catarina

Optar por um barco para ser a segunda casa não é um sonho distante. No caso de veleiros, um modelo a partir dos 30 pés já oferece banheiro fechado e, no mínimo, duas camas, o que pode acomodar bem um casal e um filho, por exemplo. Já barcos entre 40 e 50 pés, seja ele a vela ou a motor, oferecem certos privilégios, como dois a três camarotes, cabine com altura com conforto mediano, cozinha completa, um ou dois banheiros mais confortáveis e espaço suficiente sentir-se bem aconchegante. E, claro, quanto maior for o barco, mais conforto oferecerá.

Em outras palavras, se é legítimo se isolar em uma casa de campo ou numa casa de praia, longe das aglomerações de pessoas, por que não em um barco?

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