Teste Tethys 54 Fly: uma nova lancha de 54 pés que surpreende

13/05/2021

Com quatro modelos de embarcações em sua linha de montagem, o estaleiro gaúcho Tethys Yachts vem conquistando muitos admiradores. Passo a passo, está construindo uma boa reputação e barcos com bom acabamento, uso de materiais de qualidade e muita dedicação e investimento em cada projeto, e isso faz com que cada lançamento seja aguardado com expectativa.

Apresentada em duas versões (com flybridge e hard top, ou simplesmente HT), a Tethys 54 foi a primeira embarcação lapidada pelo estaleiro. Em seguida vieram a 41 HT e a 31 Targa. A próxima será a Tethys 35 HT, que já está na linha de produção do estaleiro gaúcho.

A Tethys 54 Fly, que NÁUTICA testou na Baía da Babitonga, em Joinville, Santa Catarina, é o maior modelo do estaleiro. Os projetistas souberam explorar bem os seus 16,75 metros de comprimento por 4,45 m de boca, privilegiando — além da navegação — os banhos de sol e mar. Na área externa, essa lancha tem cockpit bem amplo, solários na proa, espaço gourmet e uma plataforma de popa submersível agradabilíssima.

Já na cabine, são três camarotes completos e independentes, para que seis pessoas possam pernoitar a bordo, além de um quarto camarote para um tripulante. Como era de se esperar de uma lancha desse porte, o estaleiro oferece três opções de layout interior, com a suíte máster posicionada na proa ou à meia-nau.

Para empurrar tudo isso, a Tethys 54 Fly usa motorização Volvo IPS 800 com joystick e tem um terceiro comando na popa (item opcional), bem útil durante as atracações. Quando ela foi lançada, a promessa era de incomodar as concorrentes brasileiras na faixa dos 52 a 55 pés. Meta que vem cumprindo com competência, já com dois barcos na água e outro a caminho. Recursos para isso não lhe faltam.

A Tethys 540 Fly é uma lancha de comando duplo (um no salão, outro no flybridge) e boa qualidade construtiva que agrada tanto pela configuração da cabine, onde a altura chega a 2,00 metros, como da área externa, com um bom flybridge e uma enorme plataforma de popa submersível (item de fábrica).

São dois camarotes à meia-nau e uma suíte completa na proa — com 2,10 m de altura na entrada, muitos armários e prateleiras, tv, uma cama de 1,93 m x 1,55 m, uma enorme gaiuta e banheiro completo com box fechado —, além de um salão bem iluminado por janelões laterais e mais duas janelas no teto. Mas esse layout pode ser alterado, de acordo com a preferência do proprietário, com a suíte máster passando a ocupar os 4,45 m de boca máxima dessa lancha, à meia-nau.

Na unidade testada por NÁUTICA, um dos camarotes de meia-nau, a boreste, tem uma cama de casal medindo 1,77 m x 1,49 m. No outro camarote, a bombordo, as duas camas de solteiro apresentam medidas diferentes: uma tem 1,91 m x 0,71 m, a outra, 1,77 m x 0,80 m. Todos os aposentos têm ar-condicionado e luzes de leitura, entre outros confortos. Com 2,10 m de altura, o banheiro que serve aos dois camarotes tem box fechado e uma vigia para ventilação e entrada de luz.

Entre a suíte de proa e os camarotes há uma pequena sala, com um sofá em L, tv e uma pequena geladeira. O projetista foi muita feliz ao inserir no meio do teto um pé-direito quase infinito, limitado apenas pelo para-brisa, o que garante muito luminosidade ao convés inferior, além de uma agradável sensação de amplitude.

Já no salão, dividido em dois níveis (o primeiro, com 1,98 m de altura; o segundo, com 1,80 m a 1,90 m), foram criados quatro ambientes: a cozinha principal da embarcação; uma sala em frente a ela, a boreste, com um sofá em L e tv embutida; o posto de comando, também a boreste mais à vante; e uma área de refeição com mesa para quatro pessoas, a bombordo. Grandes janelas laterais em forma de arco garantem boa iluminação natural.

A cozinha da Tethys 54 Fly está bem localizada junto à entrada, junto a praça de popa, a bombordo, e está equipada com forno elétrico, fogão por indução, micro-ondas, uma pia com uma bela cuba de material sintético e uma geladeira pequena, de 80 litros, igual a outras duas distribuídas pelo barco, num total de 240 litros.

Por sua vez, o posto de comando, com dois bancos individuais de ajuste elétrico (altura, inclinação e distância), tem apoio para os pés, volante escamoteável, botoeira moderna e todos os equipamentos posicionados bem à mão. Por opção do proprietário, o eletrônico (Axiom) instalado na unidade testada por NÁUTICA tinha tela de 9 polegadas (em contraste com as telas de 12 do comando do flybridge).

Ao lado dos botões de acionamento de flaps há um painel com os indicadores de posição, como deve ser. As janelas laterais podem ser abertas, o que facilita a comunicação durante as manobras de atracação, além de ventilar a cabine. Também há um bom porta-trecos na lateral, mas falta uma tomada 12 volts e uma saída usb. O para-brisa, de folha única, oferece boa visão, embora, claro, não se compare ao comando superior.

Entre o salão e a praça de popa há uma porta de vidro que, quando aberta, forma uma área única, o que facilita a integração dos ambientes e as refeições do lado de fora, em uma mesa originalmente mais reduzida, mas que na unidade testada por NÁUTICA acomoda seis pessoas, por opção do proprietário — uma boa pedida. A bombordo, sob a escada de acesso às passagens laterais, que levam à proa, foi instalado um ice maker (item opcional), além de porta-garrafas e porta-copos.

Na praça de popa, há um terceiro comando da embarcação (item opcional), apenas o joystick, específico para as manobras de atracação, além de botão de acionamento da plataforma submersível e de botões liga e desliga dos motores.

No piso, fica a porta de acesso à casa de máquinas, posição tradicional nesse tipo de embarcação. Ao lado, a boreste, abre-se a porta de entrada da cabine do marinheiro, que tem 1,90 metro de altura e uma cama de 1,85 m x 0,75 m, além de banheiro (aberto, com vaso elétrico e chuveiro de mão) e alguns itens de conforto, como ar-condicionado (com controle), tomada usb, tv e uma vigia para ventilação natural.

A casa de máquinas é bem grande e espaçosa, com tudo muito bem distribuído e todas as instalações à altura de uma lancha dessa categoria. Mas vale uma ressalva: o acesso a alguns circuits breakers, como o do guincho de âncora, por exemplo, exige um certo esforço, especialmente com a motorização quente, pois a passagem lateral, apenas por bombordo, é estreita. Alertado por NÁUTICA, o diretor industrial do estaleiro prometeu acrescentar um segundo acesso a essa área pelo assento do banco de popa do cockpit.

No flybridge, com t-top de fibra e teto solar com abertura manual (ou acionamento elétrico, opcionalmente, que recomendamos fortemente), há uma terceira cozinha, com pia, geladeira e uma churrasqueira que pode ser substituída por um fogão de duas bocas. A escada de acesso é boa, mas ainda pode ser melhorada, com a colocação de degraus com formato diferente, mais confortáveis e seguros.

O posto de comando, a boreste, tem uma poltrona confortável, com assento duplo. O painel vem do estaleiro com telas Axiom, de 12 polegadas, da Raymarine, com gps, sonda e radar e integração com o painel da motorização. O equipamento está disponível na Marine Express.

Ao alcance da mão esquerda ficam os botões de acionamento dos flapes, porém falta o indicador da posição do nível desses dispositivos, que têm a função de manter o barco aprumado — só existe mostrador no painel do comando inferior.

Há ainda porta-copos de plástico — que podem ser melhorados —, que também podem ser usados para acomodar o celular, e uma tomada 12 volts. Mas falta um lugar para guardar objetos de uso pessoal (o popular porta-trecos). Ainda no flybridge, com espaço para oito a dez pessoas, há uma mesa de madeira para seis, um grande sofá em “J”, e a opção de um Stobag (toldo retrátil) na parte de trás, fora do alcance do t-top.

Outra área em que pessoas gostam muito de ficar — rente à água, com o barco parado —, a plataforma de popa ficou ainda mais convidativa na Tethys 54 Fly por já sair de fábrica na versão submersível. Tem 4,23 metros de largura por 1,86 m de comprimento (ou seja, 7,87 m² de área útil), com escada de quatro degraus, que facilita o acesso para quem chega da água, sendo 1,45 m de área submergível.

O espaço gourmet é completo, com churrasqueira a carvão ou elétrica, fogão por indução de duas bocas, tábua de carne, pia com água quente e fria, um grande pega-mão e dispositivo de corta corrente. Para cobrir essa área, há um toldo do tipo Stobag, que pode ser manual ou (opcionalmente) elétrico, com acionamento por controle remoto.

Os cunhos de popa estão muito bem dimensionados para o tamanho do barco. Por sua vez, as tomadas de cais ficam ao lado da boa escada de acesso à praça de popa, o que é muito bem-vindo, enquanto a bombordo ficam o chuveirinho e a entrada para abastecimento de água. Para iluminar essa área à noite, o estaleiro instalou dois canhões com tripla iluminação de led. E para animar os passeios, duas caixas de som na superestrutura do flybridge.

Os degraus da escada de acesso às passagens laterais, que levam à proa, são largos e bem amparados por guarda-mancebos e pega-mãos. Por sua vez, as passagens laterais do convés, com 24 centímetros de largura, protegidas por guarda-mancebos (cuja altura varia entre 30 cm e 75 cm) e por outros pega-mãos, transmitem boa sensação de segurança.

A área de proa da Tethys 54 Fly se beneficia da generosa boca máxima dessa lancha, que é de 4,45 metros. O estaleiro instalou um solário de 2,01 m x 1,97 m, já bastante grande, cercado de porta-copos, porta-garrafas e pega-mãos, mas sobra espaço para a ampliação desse lugar, próprio para os banhos de sol.

Os porta-defensas são incorporados aos guarda-mancebos, o que é muito prático. Ao lado da caixa de âncora, há um providencial chuveirinho para a limpeza da corrente. E para quem não dispensa uma boa trilha sonora, há dois canhões de som para animar o ambiente.

Como navega

Aceleramos a Tethys 54 Fly na tranquilíssima Baía da Babitonga, em Joinville,  em Santa Catarina, em um dia ensolarado com a incidência de ventos moderados, condição perfeita para tirar o máximo da motorização Volvo Penta D8-IPS 800 (dois motores de 600 hp cada), além de explorar o casco nas manobras, para entender do que conjunto é capaz.

A lancha estava com 45% dos tanques de combustível, que têm capacidade para 1 660 litros, e cerca de 80% da capacidade do tanque de água, de 650 litros. A bordo, 10 pessoas, o que significa um teste com o barco relativamente pesado.

Em passagens de top, ou seja, com os manetes totalmente acionados, cruzamos várias vezes as ondulações criadas pelo próprio barco, ou, às vezes, as marolas de outros barcos.

O casco da Tethys 54 Fly respondeu muito bem aos comandos, chegando a 29,1 nós de velocidade final, a 3 100 rpm, com 23,9 nós de cruzeiro rápido, a 2 800 rpm. Na aceleração, seu desempenho foi mediano: de 0 a 20 nós em 18,6 segundos. Uma marca razoável para uma lancha que desloca 22 toneladas.

Por conta dos 15,5 graus de V de popa e do centro de gravidade alto, o casco aceita boas adernadas ao ser forçado nas curvas fechadas, comportamento totalmente dentro dos parâmetros.

A lancha responde muito bem aos flapes, subindo e abaixando a proa rapidamente quando esses dispositivos são acionados — para quem não sabe, os flapes são úteis para abaixar a proa, o que melhora o comportamento do barco navegando contra as vagas, uma vez que, mais baixa, a proa corta melhor as ondas.

Além disso, abaixando-se o flape de um lado, a lancha inclina para o outro e vice-versa, podendo ser usado para regular o equilíbrio e a estabilidade quando necessário

Em resumo, a Tethys 54 Fly tem um casco equilibrado, de navegação suave, com muita chance de agradar a quem procura um barco com bastante espaço e bom arranjo para passar bons momentos no mar.

Opções de layout Tethys 54 Fly

Características técnicas

Comprimento total: 16,75 m (54,9 pés)
Comprimento do casco: 
Boca: 4,45 m
Calado com propulsão: 1,30 m
Ângulo do V na popa: 15,5 graus
Combustível: 1660 litros
Água: 750 litros
Capacidade dia: 16 pessoas
Capacidade pernoite: 7 pessoas
Peso com motores: 22 000 kg
Potência: 2 x 600 hp (Volvo IPS 800)

Pontos altos

» Espaços bastante amplos
» Bom camarote de marinheiro
» Boa lista de opcionais
» Três opções de layouts de cabine
» Bom nível de customização oferecido pelo estaleiro

Pontos baixos

» Consumo alto em baixa velocidade
» Falta um acesso a casa de máquinas mais a popa

Quanto custa?

Cerca de R$ 4,8 milhões, com dois motores a diesel Volvo Penta IPS 800 cada (a versão testada por NÁUTICA). Preço pesquisado em abril/2021. Para saber mais sobre o modelo testado, acesse o site oficial da Thetys Yachtswww.thetysyachts.com.br.

Reportagem: Guilherme Kodja
Edição de texto:
 Gilberto Ungaretti
Edição de vídeo: Luiz Becherini
Fotos: Rogério Pallatta e Victor Oliveira
Realização: Takeboom Produções

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