Saiba como é navegar o Rio Nilo, no Egito, em um navio de luxo ou velejando em típicas embarcações do país

06/02/2020

Para quem deseja conhecer os tesouros arqueológicos do Egito e não quer saber de viagens de carro por estradas empoeiradas — nem encarar o trânsito caótico da cidade do Cairo —, a saída é navegar o Rio Nilo, seja embarcando em um luxuoso navio de cruzeiro ou simplesmente velejando a bordo de embarcações típicas do país, como as Feluccas, pitorescos barcos de velas triangulares — uma espécie de saveiro egípcio —, ou as Dahabiyas, nascidas no século 19. Você pode ficar surpreso com isso, mas, sim, há três formas de se fazer um cruzeiro no rio Nilo, contemplando 5 mil anos de história.

A primeira é a bordo de um aconchegante navio de cruzeiro, com todo o conforto e comodidade que esse misto de meio de transporte e hotel flutuante de luxo costuma oferecer a seus privilegiados passageiros — são diversas as opções, entre as cidades de Aswan e Luxor, e vice-versa, com vários tipos de programação, especialmente entre os meses de novembro e fevereiro. A segunda, mais rústica e ao gosto dos mochileiros, são as Feluccas, barcos milenares, e rudimentares, que fazem o clássico trajeto de Aswan a Luxor ao sabor dos ventos. Por fim (não necessariamente nesta ordem), as Dahabiyas, imensos veleiros que também atravessam silenciosamente as águas do Nilo. A bordo de uma Dahabiya, é possível fazer paradas em praias desertas e passar a noite em escalas exclusivas. A embarcação desse tipo mais famosa do Nilo é o veleiro Meroe, de 50 metros de comprimento, que tem dez cabines, sendo duas delas suítes panorâmicas. São cinco noites de viagem sentindo a brisa no rosto, partindo da cidade de Esna, 64 quilômetros ao sul de Luxor, rumo a Aswan.

Mas como ficam as visitas àquelas atrações históricas e obrigatórias, como as pirâmides, as esfinges, as tumbas dos faraós, as múmias, os templos e os museus de artefatos egípcios? Está tudo incluído no roteiro dessas embarcações, das maravilhas do mundo antigo no Vale do Nilo às magníficas Pirâmides de Gizé. Ou, melhor dizendo, nos roteiros, porque há algumas dezenas de navios de cruzeiro percorrendo o rio Nilo, do Cairo até Aswan, no sul do país.

É possível descer em Memphis, por exemplo, e ver de perto a grande estátua de Ramsés II, o faraó que encarnou a glória de uma civilização. Ou contemplar o tesouro de Tutancâmon, sepultado em uma tumba no Vale dos Reis, em Luxor. Também há belos destinos litorâneos, como o Sharm El Sheikh, na península do Sinai, banhado pelas águas azuis do Mar Vermelho, onde se chega em voos de menos de uma hora, a partir do Cairo. Com águas cristalinas e recifes de corais, esse é considerado um dos melhores lugares do mundo para mergulhar. No mar, é possível também praticar windsurfe, ir a praias selvagens, nadar no Blue Hole (o famoso buraco azul de Dahab) ou conhecer a vida subaquática sem se molhar, a bordo de um barco com fundo de vidro.

Como tudo no Egito, o vaievém dos navios de cruzeiro pelo Nilo tem história. Começou em 1863, quando foi inaugurado o primeiro vapor de transporte para atender especificamente a população que vivia às margens do rio. Pouco depois, em 1869, com a inauguração do Canal de Suez, que atraiu, pela primeira vez, um grande contingente de turistas para o país, o empresário Thomaz Cook decidiu instalar uma linha de navios de cruzeiro entre Luxor e Aswan, região em que os egípcios antigos construíram cerca de 700 templos dedicados a inúmeros deuses. Desde então, a frota não parou de crescer. Hoje, cerca de uma centena de navios de cruzeiro percorrem o rio de quase 7 000 quilômetros de extensão, dos quais 1 200 quilômetros cruzam o Egito do sul para o norte, desde a fronteira do Sudão até o Mar Mediterrâneo. O que varia entre eles é o tempo de duração da jornada e o padrão das instalações. Os barcos mais luxuosos têm todas as comodidades de um hotel, incluindo piscinas, salas de ginástica, restaurantes, entretenimento e compras. Mas todos são, no mínimo, confortáveis.

Para quem prefere a opção com mordomias, a Sanctuary Retreats oferece uma leva de navios de luxo. O Sanctuary Sun Boat III, por exemplo, tem 18 suítes exclusivas, que incluem duas acomodações reais e duas presidenciais, além de chefs premiados na cozinha. Por sua vez, o Sanctuary Nile Adventurer, com 32 suítes, é considerado um dos melhores navios-boutique do Nilo.

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Em alguns desses navios, os passageiros podem confraternizar em festas árabes em que todos se fantasiam de beduínos e tentam acompanhar os passos das danças típicas locais. Luxor, ou a antiga Tebas, capital das terras altas e baixas durante boa parte do período faraônico, é o apogeu da viagem. Lá estão vários dos templos mais importantes do Egito e as tumbas de incontáveis reis e rainhas. Sem contar que a cidade de Luxor, voltada para o Nilo, é muito agradável e permite, como em nenhum outro lugar, sentir a importância ancestral do rio para a vida da população, em especial dos agricultores.

Os templos de Luxor e de Karnak podem ser vistos em um único dia, mas é bom ter um dia extra para visitar o museu, curtir um pouco a cidade, fazer um passeio de barco à vela e até um voo de balão. O problema é que, ao embarcar em um navio de cruzeiro, o tempo disponível não será suficiente para tantas atrações. Para não deixar de lado verdadeiros tesouros, a pedida é se hospedar por uns dias em um dos bons hotéis de Luxor.

O mais belo trecho do Nilo percorrido pelos navios fica em Aswan, também conhecida como Assuã. Fonte das pedras que construíram boa parte do Egito Antigo — ali estava o granito usado para fazer as estátuas, obeliscos e templos que sobrevivem por milênios — a cidade fica a 880 km ao sul do Cairo e 210 km ao sul de Luxor e marca a antiga fronteira do Império (mais ou menos dois mil anos antes de Cristo), onde fica a primeira catarata do Nilo. É lá que se encontra o Templo de Philae, dedicado a Ísis, a deusa da maternidade, fertilidade e magia. Toda a história de Ísis está retratada nas paredes do Templo de Philae. Dizem que Cleópatra costumava ir ao templo reverenciar a Deusa. O templo fica afastado do centro da cidade, numa ilha no meio do Lago Nasser. Então, se você não estiver numa excursão, é necessário pegar um táxi até a entrada do templo e mais um barco para chegar na ilha.

Por sua vez, o Cairo, a grande capital do Egito, guarda em seus arredores mais vestígios da história humana do que em qualquer museu do planeta. Entre outros patrimônios da humanidade, estão lá o complexo de Gizé, formado pelas três Grandes Pirâmides (Quéops, Quéfren e Miquerinos) e pela fabulosa Esfinge, que mede 18 metros de altura por 60 de comprimento, esculpida num único bloco de pedra.

Outra atração do Cairo é o Museu Egípcio, o principal do país, que abriga a mais prestigiosa coleção de artefatos egípcios, desde o Império do Egito Antigo até o período greco-romano. São mais de 120 mil peças em exposição. Elas incluem as múmias reais de alguns dos faraós mais conhecidos, como Ramsés II, e os objetos encontrados na tumba de Tutancâmon, como sua famosa máscara funerária de ouro, talvez a imagem mais simbólica do Egito após as pirâmides.

Para contemplar embarcado o legado dos faraós, a opção mais simples são as rudimentares, mas eficientes, Feluccas. As acomodações são simples. Os viajantes dormem no convés aberto e os dois tripulantes dobram a jornada, como marinheiros e cozinheiros. Se der vontade de ir ao banheiro, peça ao capitão e ele ancorará o barco na tamareira mais próxima. Quando a noite cai, a Felucca é encostada em um banco de areia e o jantar é servido, enquanto todos se reúnem em conversas ao pé do lampião. Mas não é preciso passar a noite. Há a opção de alugar um barco individual para casal ou pequeno grupo, e navegar apenas por algumas horas. Aswan talvez seja o melhor lugar para se fazer isso, de preferência no fim de tarde, contemplando o pôr do sol. Fazer uma viagem como essa é como voltar no tempo. Ninguém volta de lá como foi.

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