Com 1.500 dólares, músico brasileiro compra veleiro para morar e viajar pela Austrália

Por: Redação -
08/03/2021

Seja em praias, bares, esquinas ou eventos, o músico brasileiro Irlan Joney, 37, canta pela Austrália e mantém seu estilo de vida a bordo do veleiro Gambiarra. Morando no país da Oceania desde 2015, ele agarrou com todas as forças a chance de viver em “um lugar melhor” e, agora, desfruta do mundo náutico em ancoragens belíssimas.

Mesmo com cinco anos de Austrália, Irlan comprou o veleiro no ano passado, em pleno auge da pandemia. Contudo, para entender a história que o levou até o outro lado do mundo e, depois, à compra do veleiro, é necessário voltar um pouco no tempo.

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Nascido em Aracaju, Irlan trabalhou com audiovisual durante boa parte da sua vida. Em 2015, era o produtor de um trio de cantoras do Distrito Federal que foi convidado para se apresentar no Brazilian Day, famoso festival em Sydney. Depois disso, nunca mais voltou ao Brasil. “Sabia que era a minha oportunidade de mudar para esse país maravilhoso”, disse Irlan à reportagem de NÁUTICA. 

Em solo australiano, Irlan rodou até decidir viver da música. Até presidente do BRACCA (uma organização não governamental feita de brasileiros e para brasileiros da Austrália) ele foi. Mas, depois de seis meses nessa função, ele precisava de novos ares. 

A casa de Irlan antes do Gambiarra, em Jervis Bay, uma baía na Austrália – Imagem: Acervo pessoal

Para esse fim, em 2018 ele comprou uma van e a transformou em um motorhome. Passou a viver sem endereço fixo e rodou pela costa sul-sudeste da Austrália. Desse modo, percebeu que tocar em locais afastados de Sydney traria um melhor resultado financeiro. Na beira de praias afastadas, ele fazia seu pé de meia e se divertia

As caixas de som e os instrumentos que o acompanham ecoam uma mistura tipicamente brasileira e australiana — por que não? —, Baião com Blues. A banda Irlan Joney & The Carcará faz sucesso por onde passa, sobretudo em cidades do estado de New South Wales, onde, predominantemente, se apresentam. 

“Blues e Baião são estilos diferentes, mas que tem uma similaridade. São dois ritmos que contam uma história. Me amarro nisso”. 

Fazendo um som e ganhando uma grana em Sydney – Imagem: Acervo pessoal

Com o passar do tempo e das viagens pela costa australiana, Irlan precisou fazer uma pausa nessa rotina itinerante. Apesar da Austrália lidar de maneira excelente com os desdobramentos da pandemia no país, a rotina do brasileiro mudou. Nesse lapso de tempo, Irlan enxergou uma oportunidade de concretizar algo que sempre sonhou.

“Quando estourou a pandemia e o mundo se assustou, percebi que devia mudar meu estilo de vida. Passei a pescar e de tanto conviver com o mar sabia que tinha que comprar um veleiro”, conta. 

Embora não tivesse nenhuma experiência com o mundo náutico, não desanimou. Falou com os amigos, com os conhecidos dos amigos e achou um senhor australiano que precisava vender um veleiro o mais rápido possível. 

Antes de navegar assim, tranquilo, Irlan suou para conseguir o veleiro – Imagem: Acervo pessoal

Dez dias para fazer 1.200 dólares 

“Fui ver o veleiro e gostei, mas não tinha o dinheiro na hora. Dei uma entrada de 300 dólares e tive que conseguir 1.200 em dez dias”, disse e conseguiu até antes do prazo. “Fui tocar já pensando nisso: ‘Agora eu tenho que arregaçar’ ”, completa. 

“Fui tocar já pensando nisso: ‘Agora eu tenho que arregaçar’ ” – Imagem: Acervo pessoal

No final, Irlan confessou que deu sorte. “Paguei apenas 1.500 dólares no veleiro completo: com quatro velas, motor, tudo”. Comprou o Gambiarra, um Rob Legg 24 pés, em maio de 2020 e logo no primeiro dia já foi morar nele.

“Eu não tinha nem o bote inflável, usava uma prancha de surf. Era complicado, mas tudo foi engraçado”. 

Gambiarra à direita e, ao fundo, o pôr do sol em Manly Beach, Sydney – Imagem: Acervo pessoal

Mesmo sem experiência, a compra do veleiro não teve nenhum empecilho. “No estado em que estou (New South Wales) não precisa de habilitação. A minha embarcação, junto com o motor, não dá mais que 10 nós de velocidade. Foi comprar o veleiro e aprender”, explica.  

O aracajuense foi criado em beira de praia, mas nem tudo foi fácil para o marinheiro de primeira viagem. “Comprei o veleiro e não consegui sair da poita. Foi muita dedicação para aprender as coisas. E tudo sozinho”.

Através de muito estudo pela internet, sobretudo vídeos explicativos no YouTube, Irlan conseguiu se adaptar ao mundo da vela. Saindo da teoria, passou a praticar cada vez mais. Como vive da música, não tem uma rotina fixa. Vantagem que o faz passar dias e dias a bordo do Gambiarra.

Gambiarra entre belos iates na American Bay, em New South Wales – Imagem: Acervo pessoal

“Cada dia eu durmo em um lugar diferente. Exploro as praias desertas aqui. Sempre de um lugar para outro a bordo do veleiro”. Apesar de sempre estar sempre navegando, Irlan não corre riscos à toa. “Prezo pela minha segurança. Só navego com a luz do sol. Estudo as cartas náuticas e sempre tenho planos B e C, se necessário”, detalha. 

Novos ares, novos mares e novos desafios

Irlan durante a travessia Sydney – Jervis Bay – Imagem: Acervo pessoal

Com a confiança e os preparativos necessários, Irlan partirá rumo ao norte, contra a correnteza, em abril.

“Dessa vez, eu vou passar menos tempo em cada baía, sempre em direção ao norte. No total, vai dar 1.000 quilômetros. Vai ser a aventura mais louca da minha vida”, confessa.

“Vou para lugares que nunca fui. Vai ser desafiador, mas com muito cuidado, sempre”. Acompanhando a costa litorânea da Austrália, Irlan trilha e sustenta seus passos como um velejador. O sonho inalcançável se torna cada vez melhor. Abraçado pelo mundo náutico australiano, o brasileiro retribui e abraça os mares desconhecidos.

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