Primeiro veleiro construído pela MCP Yachts promete ser um primor de requinte e tecnologia

01/10/2019

A reputação de pôr na água motors yachts modernos e bem-construídos faz com que o mundo náutico sempre acompanhe de perto cada lançamento do estaleiro brasileiro MCP Yachts, que tem sede no Guarujá. O mais recente deles é este aqui: o Global Exp 66, um veleiro para quem sonha com longas travessias mares afora, mas nem de longe quer os desconfortos de camarotes espartanos nem a insegurança de uma aventura além dos limites do barco. Para isso, seu casco está sendo confeccionado de alumínio naval revestido de uma liga especial — que dificilmente se rompe em colisões — e seus quatro camarotes terão espaço e conforto dignos de uma lancha de luxo. A esta altura você que conhece bem a marca já deve estar se perguntando: um veleiro MCP? Sim!

Fundada em 1980, a MCP Yachts já lapidou e colocou na água 91 grandes barcos, de 76 a 142 pés (neste caso, o maior iate já construído na América do Sul). Todos movidos a motor. Mas existe um detalhe que liga o estaleiro ao mundo da vela: tanto o seu presidente, Manoel Chaves, quanto o seu filho e braço direito, o engenheiro Damien Chaves, são velejadores! “A construção do Global Exp 66 é uma forma de associar o lazer ao trabalho. Está sendo um grande prazer dar vida a um veleiro. Diverte mais do que fazer um iate a motor, embora a importância seja a mesma”, conta o empresário, de 64 anos, que começou a velejar aos 13 anos de idade com um monotipo da classe Simplex (muito semelhante ao Snipe), depois passou pela Lightning, deu aulas de vela com um Pinguim no Clube Internacional de Santos e chegou à vela oceânica em 1979 com a compra de um Atol 23, o Labareda, que ele mantém até hoje, impecável como se tivesse acabado de ser construído. Além disso, comanda um Beneteau 42, o Flame, de cockpit central, no Caribe. Por sua vez, Damien tem um Fast 395, batizado de Infinito, também extremamente bem cuidado.

Nada a estranhar, portanto, que, girando o leme 180 graus, um dia eles decidissem projetar um barco a vela — embora, apesar da mudança de rumo, a MCP mantenha o seu norte: atender ao mercado náutico de luxo de embarcações de casco de alumínio, produzidas sob encomenda, muitas delas para exportação. Seguindo esse conceito, o Global Exp 66 não poderia ser um veleiro qualquer. Para começar, o casco está sendo feito com alumínio naval certificado internacionalmente pelo Lloyd’s Register, de Londres. “Mais leve e resistente, esse tipo de alumínio não absorve água, não enferruja nem acumula craca. Um casco como esse é eterno, não vai se deteriorar nem se extinguir em um incêndio”, garante o presidente da MCP. “Esse é o nosso conceito de sustentabilidade”, diz. Outros diferenciais: terá leme duplo, permitindo eficiência e respostas rápidas mesmo quando adernado, e 1,85 metro de calado, por conta da quilha pivotante, que, no caso de colisão, amortece o impacto, protegendo os lemes, o eixo e os hélices.

Desde o início do projeto, ficou definido que a questão do calado era fundamental. Isso porque veleiros desse porte, com quilhas fixas, não conseguem achar acolhida em marinas e ancoradouros, seja no Brasil ou no exterior. “O desafio lançado à nossa equipe foi o de criar um mecanismo de quilha retrátil que não ocupasse volume significativo no interior do barco”, explica Manoel. Além disso, deveria ter um sistema mecânico hidráulico simples, porém de alta precisão, com travamento lateral nas posições de quilha recolhida e rebaixada. “Ao fim, chegamos a um mecanismo pivotante hidráulico, que ocupa pouquíssimo espaço na linha de centro do porão”, comemora ele.

O resultado é um veleiro que tem tudo para agradar a quem gosta de vela e cruzeiro ao mesmo tempo. Parece slogan publicitário, mas sua fidelidade ao slogan, porém, é de 100%. Ou seja, o Global Exp 66 promete aliar a incrível sensação de liberdade que só um barco a vela proporciona com todo o conforto, a comodidade, a sofisticação e segurança de um autêntico barco a motor de luxo. “Com ele, procuramos trazer para o mundo da vela o mesmo grau de conforto que nossos clientes estão acostumados”, explica Damien.

Ao mesmo tempo, esse veleiro deveria ser prático e tão fácil de velejar quanto um laser, para ser levado por uma só pessoa, apesar de seus 20,10 metros de comprimento. Para isso, a MCP adotou o conceito de raised salon com pilothouse, ou seja, uma confortável sala de comando elevada no centro do barco, com para-brisa e capota (doghouse) rígida, de onde o comandante tem uma visão panorâmica para o mar e todo o sistema de controle à mão (comando de piloto automático, eletrônicos, manetes de motor e guincho de âncora), semelhante à de uma embarcação a motor. Um convés sem obstáculos e provido de velas e trilhos, que permite uma navegação sem esforço. O skipper não precisa sequer sair desse ambiente para recolher as velas. A mastreação (da francesa Craft) é do tipo sloop (um mastro e duas velas), com três enroladores distintos para buja, genoa e gennaker. A área vélica pode ser comparada à de um barco de regatas — daí o Exp (de Explorer) do nome do veleiro. O objetivo é oferecer alto desempenho na hora de cruzar os oceanos. “A velocidade estimada de cruzeiro será de 10 nós, com ventos soprando na casa dos 15 nós”, projeta Damien.

Todas as adriças e rizos alcançam o cockpit e são acionadas por catracas elétricas, e as catracas de escotas para genoa e gennaker têm a opção de montagem automatizada ou manual. Por sua vez, a mestra pode ser de enrolar no mastro (easy reefing), sistema mais seguro e inteligente. Com tudo isso, o sortudo proprietário, ou o skipper, será capaz de tocar o barco sozinho, no conforto do salão principal, sem sair do cockipt. Bastará apertar um botão para abrir ou recolher as velas de proa, seja a genoa ou a buja. Lá dentro, tem mais: um enorme salão, além dos quatro camarotes no convés inferior, com altura do teto acima dos 2 metros — que é para manter aquela sensação de espaço.

Os móveis e anteparas remetem a um conceito que os projetistas chamam de “marcenaria inteligente”, com o uso de material compósito de baixa densidade, o que resulta em maior leveza e melhor desempenho do barco. As vigias internas ficarão na linha d’água, para que, mesmo na cabine, não se perca o contato com o mar. E ainda haverá mordomias como uma cozinha equipada com pia, armários, micro-ondas, forno elétrico e geladeira doméstica. Além disso, mesmo a motor, o Global Exp 66 promete oferecer a seus privilegiados ocupantes uma autonomia impressionante. Cheio até a boca, seu tanque de combustível terá capacidade para 2 640 litros de óleo diesel. Dá para ficar meses sem abastecer. Por sua vez, o tanque de água armazenará 2 370 litros! Mérito do casco de alumínio, de fundo duplo, que permite que os tanques nasçam junto com o casco e assim não haja espaços perdidos, enquanto em um barco de fibra de vidro os tanques são adaptados à caverna. Com isso, a capacidade de armazenamento do Global Exp 66 será de três a quatro vezes a medida de um veleiro convencional do mesmo porte. Ou seja, o casco de alumínio poupa peso para oferecer espaço.

A sala de máquinas merece capítulo à parte. O acesso a ela será restringido por uma porta watertight, fechada por seis atracadores. Com isso, pode-se dizer que será blindada contra incêndio, água e cheiro. Como a altura é mesma da dos camarotes, será possível realizar, em pé, todas as manutenções dos equipamentos, com boa ergonomia — algo inédito em barcos do mesmo porte. Os equipamentos vitais que fazem ruído, como motor (Volvo ou Yanmar, de 175 a 200 hp) e gerador, estão instalados neste compartimento estanque e completamente isolados acusticamente das áreas sociais. “Na necessidade de uma manutenção mais intensa, será possível tirar o motor pelo cockpit do barco sem ter de desmontar muita coisa”, conta Manoel Chaves.

A casaria também merece destaque: foi feita com materiais compósitos, de maior leveza, a partir de uma parceria firmada pela MCP com a ML Boatworks, de Marco Landi, estaleiro de Indaiatuba, interior de São Paulo, que, entre outros projetos, construiu o veleiro Brasil 1, com o qual Torben Grael conquistou o terceiro lugar na regata Volvo Ocean Race, em 2006.
O cockpit central oferece outra vantagem, além de todo conforto ao cruzeirista no comando da embarcação: o camarote máster, de popa, ocupando toda a largura do casco (de 5,50 m), terá um tamanho imbatível, com espaços para mesa de escritório, sofá e diversos armários, além de um enorme banheiro. A altura chega a 2,20 metros. Em sua antepara estanque, de ré, uma grande janela proporcionará uma vista privilegiada do mar, quando a plataforma de acesso na popa estiver rebaixada.

Ao mesmo tempo, o camarote vip, na proa, será tão espaçoso que na maioria dos barcos desse porte seria considerado a cabine máster. Além disso, a distribuição de grandes gaiutas por todos os cômodos, junto com as janelas laterais, permite iluminar barbaramente quase todo o interior do barco. Na plataforma, há uma garagem para um bote de 3 metros, que, por ficar acomodado no sentido transversal, não rouba espaço do camarote de popa. Uma targa de alumínio, voltada para ré, facilita na hora de tirar ou colocar o bote. Ela também pode ser usada para a instalação de painéis solares e do radar. Na praça de popa, poderá ser criada uma área de lazer e mergulho, com a distribuição de espreguiçadeiras e solários. Além disso, dá para ter uma churrasqueira fixa, grelha, tábua para cortar carne, mesa desmontável, etc.

Fotos: Divulgação

Por sua vez, a plataforma de popa, quando não estiver ocupada pelo bote de apoio, vira um interessante deque-bar, ou um beach club, um lugar para sentar, relaxar e contemplar o mar. Os convidados, é claro, vão adorar. Ainda mais os brasileiros, que tanto prezam o contato com a água. O preço do sonho? A partir de US$ 1,9 milhão, na sua versão básica. Mas vale cada centavo, uma vez que o casco de alumínio permite navegar em qualquer tipo de mar, da gelada Antártica ao calor do Caribe, com um detalhe que o torna ainda mais especial: viaja quase sempre ao sabor dos ventos, a forma mais livre de se curtir um barco.

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