Relembrando expedição histórica, velejador navegará todo rio Amazonas até Quito, no Equador

Por: Redação -
12/04/2021
Olímpio em algum lugar da Amazônia - Imagem: Acervo Pessoal

Economista, jornalista, professor e agora capitão do veleiro Kûara. Aos 64 anos, o amazonense Olímpio Guarany já desempenhou diversas missões como profissional, mas foi só em 2018 que ele deu os primeiros passos para realizar um sonho antigo: navegar todo o rio Amazonas, da foz à nascente. 

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Navegar, só, não. Como um bom perfeccionista e amante da história do país, Olímpio acrescentou um ingrediente memorável à jornada: irá repetir a expedição do português Pedro Teixeira, que em 1637 saiu de Belém e oito meses depois chegou a Quito, no Equador, para depois retornar, mapeando os domínios portugueses.

Aquela foi a primeira viagem de subida do rio. Antes dela, conquistadores espanhóis, como Francisco de Orellena, já haviam percorrido o Amazonas no sentido do Atlântico. Renegado pela história oficial, Pedro Teixeira foi responsável pela consagração de boa parte da Amazônia ao Brasil. Ele foi também um dos fundadores do Estado do Pará e enfrentou holandeses, irlandeses, ingleses e franceses para manter a soberania de Portugal sobre as terras amazônicas.

Leve mergulho na história

À época, quase toda região da Floresta Amazônica era pouquíssimo povoada por portugueses ou espanhóis. Até então, milhares de povos indígenas viviam tranquilamente às margens dos rios ou nas florestas. Até que no dia 28 de outubro de 1637, a mando do governador local Jácome de Noronha, Pedro Teixeira foi “conquistar” essa região em nome da coroa portuguesa. 

Em tese, tal região pertencia à coroa espanhola (sim, a princípio, Portugal “roubou” a Amazônia da Espanha) que, posteriormente, reconheceu a região aos luso-brasileiros no Tratado de Madri, de 1750. 

Durante toda a jornada de subida e descida do maior rio do planeta, que levou mais de dois anos para ser concluída, Pedro Teixeira não pôde reclamar da falta de mão de obra para a lida. Afinal, havia mais de 1200 indígenas escravizados a bordo das tantas canoas da expedição. Visto que o rio Amazonas nasce no Equador e deságua no Amapá, os índios foram obrigados — na subida — a remar contra os 6 nós da correnteza do rio.

Ah, e essa expedição tem um personagem a mais: o “Cãopitão Boris” – Imagem: Acervo Pessoal

Em contrapartida, em sua moderna missão, a bordo de um veleiro de 30 pés, Olímpio terá ajuda das velas e de até de um motor, quando necessário. O tanque de tanque de combustível do Kûara tem capacidade de 80 litros. Com pouca informação sobre o abastecimento no trajeto, seu comandante leva uma reserva de 120 litros; ou seja, um tanque e meio a mais, como precaução.

Redescoberta da Amazônia 

Imagem: Acervo Pessoal

“Há 25 anos eu venho construindo esse sonho na cabeça, mas nunca tive coragem de largar tudo para realizá-lo. Até que, em 2018, eu disse: ‘Chega! Vou fazer, não tenho mais idade para esperar’”, conta Olímpio, rindo. Tomada a decisão, ele suspendeu suas atividades como jornalista e mergulhou de cabeça no projeto, com o objetivo de iniciar a expedição em 2020. Por conta da pandemia, a largada, que seria em março  teve de ser adiada para outubro do ano passado. 

Antes de zarpar, Olímpio fez contato com diversas instituições em busca de apoio financeiro e institucional. “A Marinha, por exemplo, foi a primeira instituição que eu procurei. Fui ao ministério do Meio Ambiente, à FUNAI e tive a consolidação do projeto. Hoje, 80% do financiamento vem dos patrocinadores, e 20% é de recurso próprio”, explica. 

Além disso, o velejador enxergou uma maneira de tornar sua jornada ainda mais simbólica. “Se hoje a Amazônia pertence ao Brasil, foi graças à expedição de Pedro Teixeira. Então, uma maneira de deixar nossa expedição emblemática é usando seu nome”, justifica Olímpio que zarpou com o veleiro Kûara no Amapá, em plena foz do rio Amazonas, no dia 12 de outubro de 2020, rumo a Belém, posicionando-se para a aventura. Foram 282 milhas navegadas no trecho de Macapá-Belém, em 18 dias.  

Imagem: Acervo Pessoal

A bordo de seu veleiro — um Dufour Classic — Olímpio pretendia ir até Quito, repetindo a rota do comandante português. “Infelizmente, nosso barco não vai chegar até lá, pois o calado dele não permite. Mas vamos até o rio Aguarico, na confluência com o rio Napo, onde Pedro Teixeira fincou a bandeira de Portugal e tomou posse. De lá, pegamos uma embarcação regional e iremos até Quito”, detalha o velejador amazonense.  

“Além disso, nossa expedição tem uma característica especial: faremos com outro olhar e abordaremos aspectos socioeconômicos, ambientais e conflitos da região”, conta ele, que ao longo da jornada irá produzir uma série de conteúdos. 

“Estamos fazendo essa expedição para contemplar uma série de documentários estabelecendo comparações entre duas Amazônia: a deixada por Pedro Teixeira e a que encontraremos agora”.Dentro dessas série de documentários, serão adicionadas duas minisséries: uma sobre a bioeconomia da Amazônia e outra sobre os desafios de navegar pelos rios dessa região. 

Imagem: Acervo Pessoal

“A Amazônia é tratada de  forma desrespeitosa. Não só ela, mas os povos amazônicos e da floresta também”, lamenta o comandante do Kûara, que faz seu máximo para não deixar a história dessa região (e, por consequência, do Brasil) cair no esquecimento.

Fora isso, ele reforça o quão importante é para cada brasileiro conhecer a Amazônia, e o principal: reconhecer que precisamos mudar a maneira de tratar  esse bioma. “Estudar a riqueza de sua biodiversidade é um desafio imposto à humanidade. Assim como é fundamental conter a marcha de destruição ambiental a que ela está sujeita e que se acelerou nos últimos 50 anos”, defende. 

Segundo Olímpio, mesmo com toda essa magnitude de vida, de expectativas e de interesses em torno de seu destino, a Amazônia ainda é pouco conhecida no Brasil e no Mundo. Portanto, através dessa expedição documentada, ele pretende, além de homenagear essa região, conscientizar a todos da sua importância histórica e cultural para o Brasil. 

Sobre a vida (de) Guarany 

Casas construídas sob palafitas, na Amazônia – Imagem: Acervo Pessoal

Toda essa aventura tem um significado ainda maior para Olímpio, que, afinal, é nascido em Parintins, na beira do rio Amazonas. “Quando criança, eu construía alguns pequenos barcos a vela, e me divertia. Desde sempre vivi a emoção de velejar pela Amazônia”, diz o e economista, jornalista e professor, que comprou seu primeiro veleiro em 1989, um Hobie Cat. 

Desde quando zarpou do Amapá, no dia 12 de outubro do ano passado, Olímpio vive seu sonho de navegar e contar a história da Amazônia. “No total, projetamos um prazo de doze meses e 11 mil quilômetros navegados. Mas, se houver necessidade, estenderemos o prazo”, avisa. “É bom lembrar que Pedro Teixeira levou dois anos para ir e voltar”, brinca. 

Para redescobrir a Amazônia, navegando pela rota deixada pelo comandante português no século XVII, não poderia haver ninguém melhor que Olímpio Guarany. 

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