Designer brasileiro de carros de luxo faz sucesso na Europa projetando barcos únicos

Por: Redação -
03/03/2021

A cidade de Helsinki, capital da Finlândia, abriga um dos grandes nomes brasileiros do design: o mineiro Felipe Palermo, de 33 anos. Nascido em Belo Horizonte, Felipe já morou em oito cidades pelo mundo e é um dos grandes exemplos do encanto que o mundo náutico proporciona.

Formado em design industrial, pós-graduado em automóveis, ele já trabalhou em grandes marcas automobilísticas, como a Mercedes-Benz. E foi um salão náutico, o Dusseldorf Boat Show, que mudou sua trajetória de vida.

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Depois de se formar ainda no Brasil, Felipe seguiu direto para a carreira internacional. Fez mestrado em Milão, na Itália, e, nessa época, desenvolveu uma série de projetos para empresas como Audi, Volkswagen e Lamborghini.

Com o portfólio maior, Felipe voltou ao Brasil. No Rio de Janeiro, aplicou seu conhecimento em projetos de infraestrutura. Destaque para o VLT, sigla para Veículo Leve sobre Trilhos, também conhecido como trem bala brasileiro, além de projetos diversos, de mobiliários a projetos de postes de luz.

A partir de então, novas propostas surgiram. Na Áustria, Felipe inaugurou seu estúdio de design independente com Volvo e Hyundai como clientes. Em seguida, a Alemanha foi o país escolhido: Felipe foi para um estúdio multicultural onde explorou o design puro, tanto interior quanto exterior.

Já na Holanda, depois de passar por uma rigorosa seleção, Felipe teve o design escolhido para trabalhar em umas das principais empresa de caminhões do país, a DAF, e viu sua vida tomar outro rumo.

“Sempre procurei estar antenado no mercado de luxo, além dos carros. Na Holanda, visitei o Dusseldorf Boat Show. No primeiro dia do salão náutico, andei pela feira toda e, no fim, gostei de um único barco. No estande dessa lancha, toda preta, decidi conversar com um atendente. Para minha surpresa, ele não era um vendedor, mas o desenhista do barco”.

Depois de trocar contatos e visitar o estúdio, na Finlândia, Felipe não pensou duas vezes ao mergulhar de cabeça nessa nova área. Apesar de ser uma oportunidade completamente inusitada, o objetivo era usar a própria expertise em carros e aplicar no produto em si. A região em que passaria a trabalhar é marcada por uma tradição náutica muito grande, o que ele diz ter facilitado muito em toda a adaptação.

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Há mais de dois anos, Felipe passa os dias debruçado no design de lanchas. Dois dos seus principais clientes são a Axopar e a Brabus, além dos projetos privados (de lanchas a grandes iates de 250 pés). A Brabus, inclusive, é uma marca de carros esportivos que resolveu investir em barcos depois do dono comprar uma lancha Axopar, de onde surgiu a parceria.

“A lancha da Axopar me chamou atenção no Dusseldorf Boat Show. O seu design é completamente escandinavo: limpo, todo preto, com materiais de altíssima qualidade, madeira no design interior. Uma linguagem totalmente diferente. E perceber que todos esses detalhes são reflexos da própria cultura dessa região europeia foi uma descoberta incrível para mim. O frio e a escuridão da Finlândia afeta a dinâmica das pessoas, é muito diferente do que nós, brasileiros, estamos acostumados”, explica Felipe.

No inverno, são cerca de 5 horas de luz por dia. No verão, são cerca de 5 horas de escuridão. “Isso faz com que eles valorizem muito as embarcações para aproveitar o dia. Ou seja, o design para as embarcações nesse país até inclui cabine, mas valoriza muito mais o conceito amplo e aberto que possibilita o proveito total da lancha.”, acrescenta.

Na Finlândia, Felipe assina os projetos da lancha New Axopar 37 Suntop/Cabin, com desenho próprio no interior e exterior; a lancha 37 Brabus Shadow 900 Black OPS, premiada na Alemanha. Em breve, uma nova lancha: Axopar 22 Spyder, com data de lançamento prevista para 2021.

A lancha New Axopar 37 tem 11,50 metros de comprimento, com capacidade para 12 passageiros e, segundo o fabricante, velocidade máxima de 48 nós. Para atender a todos os públicos, foi projetada a Axopar 37 Revolution, agradando a quem valoriza um design mais chamativo. Já o o 37 Brabus Shadow 900 Black OPS tem 11,73 metros, com capacidade para 10 passageiros e velocidade máxima, segundo o estaleiro, superior a 60 nós.

Felipe conta que as lanchas Brabus são, basicamente, as versões esportivas da Axopar. O casco, apesar de ter a mesma estrutura, passa a ser equipado com fibras de carbono. O motor é substituído por outro mais potente, alguns componentes são alterados, e tudo isso acaba elevando o valor da embarcação. Todos esses modelos são limitados — em torno de 30 a 40 exemplares — e supervisionados desde a escolha dos materiais até a costura do estofamento.

Para desenhá-los, Felipe parte da ideia de que “o finlandês não consome algo que não precisa. Eles vivem nessa clima frio e escuro e tendem exibir comportamentos muito introspectivos para enfrentar o cotidiano, o que os torna muito próximos da natureza e, por vezes, melancólicos. Eles valorizam os períodos de sol e tudo isso impacta o design, que só adiciona o que for necessário. O pensamento é ‘se não preciso, não vou comprar.’ Assim, os projetos precisam ser muito mais clean, minimalistas e limpos.”

Sobre a possibilidade de voltar a atuar no Brasil, Felipe afirma que é uma ideia bastante promissora, principalmente no ramo das consultorias. Para ele, o país natal é repleto de oportunidades dentro do design, e ainda reflete muito a sua cultura nas embarcações — característica muito valorizada por ele.

O fato de ser um local com muita luz é algo que muda completamente a linha de raciocínio na hora de projetar um barco, mas ele explica que gosta mesmo é de design de qualidade, independente da vertente. O que importa é adquirir um produto que, mesmo 20 anos mais tarde, ainda seja um produto elegante.

Apesar de não ser muito fã de tendências, Felipe gosta do fato da amplitude estar cada vez mais na moda. “Essa coisa de ter barco mais fechado e com layouts travados é ultrapassado! Cada vez mais os cascos proporcionam plataformas de mergulho, convés abertos e muita luz natural”.

De qualquer forma, para o designer, o importante mesmo é ter coerência, ou seja, aliar simplicidade e identidade nas criações, para que todas as características estejam convergindo em um ponto.

Por Naíza Ximenes, sob supervisão do jornalista Otto Aquino.

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