De Ubatuba a Angra: um roteiro para curtir o trecho mais bonito da costa brasileira

Por: Otto Aquino -
30/12/2020

Ubatuba, no litoral norte paulista, tem nada menos que 83 praias, uma diferente da outra. Já Angra dos Reis, no litoral sul carioca, possui algo como 365 ilhas, dos mais variados tamanhos. Entre as duas, ainda fica Parati, uma das mais charmosas cidades históricas do Brasil, com também um pouco de duas coisas que os brasileiros adoram: praias e ilhas. Então, por que não juntar tudo isso num só roteiro e fazer um grande passeio de barco que tem a cara do verão?

 

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Esta é a nossa proposta: ir de Ubatuba a Angra, ou vice-versa, é claro, de barco, curtindo, sem pressa alguma, cada cantinho do trecho mais lindo da costa brasileira. São apenas 190 milhas náuticas, do Saco da Ribeira, em Ubatuba, ao centro de Angra (não em linha reta, claro, mas explorando atalhos que levam a lugares com dotes paradisíacos), que tanto podem ser feitos em um único dia (não recomendado, pois não permitirá parar para ver nada no caminho), quanto em uma semana de deliciosa preguiça.

O ideal, porém, são três dias, que, por sinal, cabem perfeitamente em qualquer um dos próximos fins de semana de férias de verão e calor intenso. Neles, é perfeitamente possível visitar os pontos mais bonitos desse trecho particularmente abençoado pela natureza e escolher, entre dúzias de opções, aqueles lugares que mais lhe agradaram para pernoitar, seja a bordo ou não.

 

Será uma daquelas viagens que ficam para sempre na memória de todo mundo, até porque oferece atrativos de todos os gostos: das lindas praias (muitas ainda selvagens!) de Ubatuba, às famosas ilhas da Baía de Angra dos Reis, passando por trilhas e cachoeiras na mata atlântica, rios cristalinos e perfeitos para tirar o sal do corpo depois de um dia inteiro de mergulhos no mar, e ótimos restaurantes para matar a fome no caminho, daqueles onde você estaciona o barco quase em frente à própria mesa.

 

Para melhor aproveitar esse cruzeiro, a pedida é dividir a viagem em três etapas. O primeiro trecho vai de Ubatuba à Parati. O segundo, de Parati ao Saco do Céu, na Ilha Grande. O terceiro, como um grand finale, fica por conta de uma volta completa à Ilha Grande.

1º dia — Ubatuba-Parati

Apesar de ficar a pouco mais de um par de horas de carro da maior cidade do país, Ubatuba ainda abriga algumas praias tão virgens quanto quando os primeiros caiçaras começaram a chegar por ali. Surpreendente, também, é a própria quantidade de praias que possui. Em uma faixa de pouco mais de 120 quilômetros de extensão, há nada menos que 83 delas. Na média, uma praia a cada quilômetro e meio!  E o mais incrível é que uma costuma ser completamente diferente da outra, o que torna esse cardápio ainda mais saboroso.

 

Como a minúscula Praia do Cedro, a menos de dez minutos do centro, que tem o tamanho certo dos seus sonhos: não mais que 10 passos de extensão, com nenhuma outra pegada na areia a não ser a sua própria. Ou o Bonete, uma ainda típica vila de pescadores, onde não existem ruas nem automóveis, pela simples razão de que não há nem estrada até lá: só se chega de barco ou a pé mesmo, numa caminhada de pouco mais de meia hora por uma trilha beirando o mar, que, por si só, já vale o esforço. Em Ubatuba, muitas vezes, uma simples trilha separa o urbano do primitivo.

De maneira geral, as praias de Ubatuba dividem-se em duas categorias, claramente distintas: as urbanizadas, com pequenos prédios de três andares, concentradas na parte sul da cidade, e as de areias vazias, na parte norte, com dotes de paraíso — apesar dos borrachudos. Há, ainda, um terceiro tipo de praia na região: as dos condomínios conscientes, um meio-termo civilizado, como acontece no Félix e Prumirim – esta, com uma lagoa natural no canto e uma ilha com outra esplendida praia em frente. Já a Puruba não é uma praia como outra qualquer.

 

A começar pelo fato de ser praticamente desconhecida pelos próprios moradores de Ubatuba. A razão disso é geográfica: a praia fica separada da terra firme por um largo rio, que quase sempre só pode ser atravessado de barco. Quem vê a praia, pensa que é uma ilha. Senão na geografia, com certeza no seu isolamento. Recomenda-se, porém, untar bem todo o copo com um bom repelente, porque os borrachudos da Puruba não dão sossego nem dentro d’água. Mas, em compensação, o visual é de comercial de bronzeador: um praião deserto, sem viva alma por perto. Nem parece que se está entre os dois principais estados do país.

No entanto, convém ir preparado para a célebre imprevisibilidade do tempo na região de Ubatuba. Reza a tradição que, quando não está nublado (“Ubanubla”) é porque já está chovendo (“Ubachuva”). A culpa pela instabilidade climática é da Serra do Mar, que ali margeia as praias, feito um paredão verde. A serra retém as nuvens e favorece as chuvas.

 

A vantagem é que, justamente por causa da quantidade de água que cai, formam-se rios que vão desaguar nas praias e cachoeiras que, muitas vezes, também despencam a poucos passos delas. Consequentemente, você tem água doce ou salgada, na mesma praia. Como acontece, por exemplo, na esquecida Camburi, a última praia sob os domínios de Ubatuba, onde a proximidade das cachoeirinhas com o mar é tão pequena que seus (raros, por sinal) frequentadores saem de uma para tomar banho na outra e voltam em seguida.

 

A preservação dessa parte do litoral paulista tem diretamente a ver com o acesso complicado por terra às suas praias. Muitas delas ficam nas pontas das penínsulas, distante do asfalto e com caminhos impossíveis aos automóveis – só mesmo a pé ou, melhor ainda, de barco.

Já o forte da cidade de Parati não são as praias. As melhores ficam bem antes da cidade (que, no entanto, merece, um longo passeio por sua história), lá para os lados de Trindade, ainda quase na divisa com São Paulo, ou avançando pela península em frente ao centrinho, onde – ali, sim! – há uma sucessão de prainhas graciosas, incluindo Jurumirim, com uma única casa modesta, que pertence a Amyr Klink.

 

Tem, também, a Praia da Lula, que é uma linda faixa de areia, com pouco mais de 100 metros de comprimento. Bem pertinho dali, já que tudo fica mais ou menos próximo nas águas de Parati, há o Saco da Velha, uma praia de filme de aventura, semi-escondida na entrada da Enseada de Parati-Mirim. Muitos barcos pernoitam lá, atraídos por uma paisagem encantadora: uma praia com grandes pedras fincadas na areia e águas muito tranquilas. Quase em frente, fica a graciosa Ilha da Cotia, com duas minúsculas prainhas, uma de cada lado da ilha, interligadas pela mesma faixa de areia, feito praias siamesas.

 

Você desembarca numa, caminha uma dúzia de passos e da na outra, onde as pedras formam piscinas no mar. As crianças adoram. Os adultos, também. Penetrando bem mais na Enseada de Parati-Mirim, chega-se ao Saco do Fundão, que, logo na entrada, tem uma ilhota ligada ao “continente” por uma linda língua de areia, que seria perfeita para um desembarque, não fosse um detalhe: cães com cara de poucos amigos intimidam qualquer tentativa de aproximação — um jeito malandro e muito comum na região de criar praias “particulares”, para usufruto exclusivo dos donos das casas.

 

Na mesma enseada, fica o curioso Saco Grande — anote este nome! — uma plácida lagoa de água salgada, escondida após uma sucessão de reentrâncias, que só mesmo a curiosidade do piloto fará seguir em frente. Você vai entrando, dobrando pontas e se escondendo, cada vez mais. No final, após a última curva, surge uma pequena baía, em forma de ferradura, que é uma perfeita lagoa. A ilusão é quase perfeita, porque, uma vez dentro dela, não se vê mais a saída. Dormir ali também é sensacional.

 

Um pouco antes da Enseada de Parati-Mirim fica outro atrativo e tanto de Parati: o Saco do Mamanguá, um braço de mar que avança cinco milhas terra adentro, ladeado por altíssimas montanhas, feito um fiorde de verdade — e onde o vento é sempre generoso para os veleiros. O ideal é navegá-lo até o fim (tomando cuidado apenas com o baixo calado após a Ponta do Bananal!) e fazer passeios de bote pelos riozinhos que deságuam no fundo do saco.

 

Na volta, pare na Praia do Cruzeiro, onde uma (longa, é verdade) trilha leva ao topo do “Pão de Açúcar”, a grande pedra, que lembra o monumento carioca (daí o seu nome) e domina a paisagem no Mamanguá. A vista lá do alto é tão sensacional quanto as praias desta primeira parte do roteiro.

A Ilha Anchieta fica pertinho do centro de Ubatuba, mas ainda esconde uma praia quase intocada

A mais popular e abrigada da histórica Ilha Anchieta — que, no passado, abrigava um presídio e, hoje, é parque e área de proteção ambiental —, esconde uma prainha praticamente desabitada, vazia e imperceptível para quem passa de barco: a Praia do Sul. Esse paraíso e fica escondido numa enseadinha, onde o mar avança terra adentro, entre encostas cobertas de vegetação e enormes pedras.

 

De cima dessas pedras é possível ter uma visão quase “aérea” desta sonífera praia. Difícil acreditar que um lugar intacto desses, com não mais de 20 metros de extensão, emoldurada por uma bonita vegetação e sombras de amendoeiras, fique a menos de 10 minutos de barco do continente e, mesmo assim, sem nenhuma pegada na areia, a não ser a sua, se você aceitar o convite de ir até lá.

Ilha das Couves, um lugar bem abrigado com duas praias quase intocadas de águas cristalinas

Ubatuba tem 17 ilhas e oito ilhotas, além das famosas 92 praias. No entanto, oito em cada dez donos de barcos insistem em ancorar apenas na histórica Ilha Anchieta. Mas, ali pertinho, a dez minutos de barco da vila de Picinguaba, duas outras ilhas (ou uma ilha e uma ilhota) escondem praias quase intocadas, bem abrigadas e emolduradas por uma bonita vegetação, entre outras atrações para quem ancora em suas águas. Esses paraísos, ligados por um canal, chamam-se Ilha e Ilhota das Couves.

 

Parece incrível, mas não mais que meia dúzia de lanchas passam por esse lugar mágico a cada fim de semana. São duas praias, localizadas na face oeste da ilha — a Prainha das Couves, com 60 metros de extensão, e a Prainha do Japonês, com 20 metros de areia branca —, que permitem um desembarque fácil e encantam pelas águas cristalinas, daquelas que a gente consegue enxergar o fundo. Para completar, tem vida marinha abundante, com lindos corais no fundo e muitos peixes coloridos em volta deles.

Para os amantes da pesca, na face sul, é comum encontrar peixes de passagem, como robalos, enchovas e cavalas. Como isso não bastasse, bem pertinho dali fica a Ilha Comprida (que faz parte do Arquipélago das Couves), o que permite dar uma gostosa esticada ao passeio.

2º dia — Parati-Angra

Se Parati esbanja tranquilidade em suas águas, o menos não acontece em Angra dos Reis. Nenhum outro ponto da costa brasileira reúne tantas ilhas e tanta gente interessante em volta delas quanto Angra. Mas, esqueça as praias da baía no lado do continente. Para curtir a região como se deve, só mesmo de barco, porque a verdadeira Angra fica dentro d’água. Muita gente chega nem desembarca nas ilhas, porque só curtir aquela paisagem já enche os olhos.

 

A Ilha da Gipóia, por exemplo, abriga uma das praias mais badaladas do Brasil: a Praia do Dentista, uma espécie de balada diurna de verão — um lugar para ver e ser visto, mas sempre de barco, porque o lance é ficar a bordo, apreciando o movimento ao redor. Nos fins de semana de verão, mais de 100 lanchas chegam a parar ali, ao mesmo tempo.

 

Outro ponto consagrado de agitação é o Frade, um bonito complexo com casas, restaurantes e um grande marina, bem pertinho do Dentista. Mas, se o seu objetivo for justamente o oposto, ou seja, a tranquilidade, rume para outras tantas ilhas e praias da baía, como praia da Biscaia, na Ponta Leste, uma linda enseadinha de águas translúcidas, afastada da cidade e emoldurada por uma exuberante paisagem natural.

Para quem não resiste à curiosidade de saber onde ficam os riscos e famosos, é só seguir o rush das lanchas, que passam por uma ilha cinematográfica. A Ilha dos Porcos Grandes, que tem pista de pouso e zoológico particular. As casas de Luciano Huck, na Ilha das Palmeiras, e de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, na Gipóia, também atraem os curiosos.

 

Passado esse momento tiete, você vai descobrir que, de fato, não é preciso invadir nenhuma ilha particular para ser feliz, já que Angra guarda muitos lugares imperdíveis. O único problema é que quando você acha que encontrou a mais bonita de todas, surge outra, logo adiante, que, pensando bem, é ainda melhor.

 

É o caso de uma enseada cheia de superlativos, no lado de dentro da Ilha Grande, chamada Saco do Céu. Velejadores e lancheiros descolados frequentam a região, atraídos não só por suas águas tranquilas e abrigadas mas sobretudo pela mística de um lugar que, nas noites de lua cheia, reflete as estrelas no próprio mar – daí, aliás, o nome Saco do Céu. Está para nascer quem já foi e não gostou do Saco do Céu. E, certamente, não será você.

3º dia — Rodeando a Ilha Grande

Nenhum passeio na região de Angra estará completo sem uma vasculhada em algumas das 106 praias, de diferentes características, da Ilha Grande – que, como este próprio número indica, é grande não apenas no nome. Mas esqueça a muvuca semiurbana da Vila do Abraão e concentre-se apenas no que a Ilha Grande tem de melhor: o verde – tanto de suas matas quanto de suas águas. Como, por exemplo, o seu “lado de fora”, onde ficam as praias menos conhecidas. Ele é banhado pelo mar aberto, o que dificulta um pouco a navegação, mas, em compensação guarda algumas das mais lindas praias de toda a Baía.

 

Uma delas é Lopes Mendes, que já figura entre as tops do mundo. Tem areias branquinhas e fininhas, que emitem “ics, ics” sob os pés, águas transparentes e absolutamente nada ao redor, a não ser muita natureza. Como fica voltada para o mar aberto, tem ondas razoáveis e ancoradouro seguro apenas no lado direito de quem chega pela água, contornando a Ponta de Castelhanos.

Escondidinha, quase ao lado, fica Cachadaço, com menos de 20 metros de areia e um mar de piscina. Nela, não cabem mais do que duas lanchas ao mesmo tempo, o que garante total privacidade a quem chegar primeiro. Mais à frente fica a Praia de Aventureiro, com águas cristalina, com ou sem ondas (dependendo apenas do lado escolhido) e um aglomerado de pedras que formam piscinas sob um caprichoso coqueiro debruçado sobre o mar. Parece cartão-postal. O lugar agora está sob controle ambiental e com um número limitado de visitantes, o que é bom para todo mundo.

 

A Lagoa Azul também não fica nada atrás em beleza. É um desses lugares que não cansa nem enjoa. De cada dez barcos que navegam pela Ilha Grande, pelo menos nove dão sempre uma passadinha por lá. Porque um banho ali é uma delícia.

 

Mas se só as praias do lado de fora já valem a viagem, conhecer as de dentro é um bônus do qual não se recomenda abrir mão. Mesmo quem pensa que já conhece cada pedaço desta faixa litorânea dos sonhos, vai se surpreender.

 

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