Entenda: como um curto circuito pode incendiar uma embarcação?
Por Pedro Rodrigues*
Não é incomum ver notícias de incêndios em embarcações que iniciam de maneira descontrolada, intensa e com muita fumaça. Um dos principais causadores disto é o curto circuito no sistema elétrico.
Inscreva-se no canal de NÁUTICA no YouTube e ATIVE as notificações
Primeiro, vamos entender o que é um curto circuito. Os circuitos elétricos precisam de três itens básicos para funcionar: uma fonte de energia, que vai enviar elétrons para o circuito; um condutor elétrico, que vai permitir a passagem de elétrons; e uma carga, um equipamento que vai transformar essa energia em trabalho, ou seja, luz, movimento e/ou calor. Depois da carga, os elétrons passam por outro condutor para retornar à fonte.
Agora, para entender os efeitos do curto circuito, vamos explicar duas propriedades físicas da eletricidade: a lei de Ohm e o efeito Joule. A lei de Ohm, mostra que a tensão (ou voltagem) empurra a corrente elétrica pelo circuito e a resistência limita essa passagem de corrente. Se a resistência é alta, pouca corrente vai passar, mas se ela for baixa, muita corrente vai passar. O efeito Joule é o aquecimento causado por uma corrente alta passando por uma resistência.
Basicamente, é o princípio usado no chuveiro elétrico, onde um filamento, chamado de resistência, aquece com a passagem de corrente e transfere calor para a água. Porém, se o chuveiro é ligado sem passagem de água, esse filamento superaquece e se rompe. Às vezes, até derrete a carcaça plástica da ducha antes de partir abrindo o circuito.
Em um curto circuito, a corrente acha caminho de um condutor a outro, sem passar pelo equipamento. Como a resistência no circuito fica quase nula pela falta de carga, pela lei de Ohm, a corrente chega quase ao infinito, causando um aquecimento instantâneo dos condutores pelo efeito Joule (corrente aumenta, aquecimento aumenta) e o derretimento da isolação dos condutores, o que produz uma fumaça densa e escura. Esse aquecimento só será interrompido quando os condutores se partirem e a corrente for cortada, porém, muitas vezes esse aquecimento pode causar o derretimento de outros cabos que também entram em contato causando outro curto e/ou o incêndio de outros materiais inflamáveis próximos.
Para evitar esse problema, os circuitos devem sempre ser protegidos por disjuntores ou fusíveis que devem ser localizados o mais próximo possível da fonte de energia, isso é: perto das baterias, gerador, controlador de placas solares ou tomada de cais. As proteções funcionam como o elo mais fraco de uma corrente, quando aquecidos pelo efeito joule, os disjuntores desarmam e os fusíveis queimam, abrindo o circuito e protegendo os cabos do aquecimento. O único sistema que dispensa o uso de proteção é o motor de partida da embarcação às baterias.
Leia também
» Gambiarras elétricas a bordo ajudam ou atrapalham? Saiba mais
» Você sabe quais são os seis riscos elétricos mais comuns no barco? Veja
» Incêndio em barco é controlado em marina de Balneário Camboriú
Confira esta lista para ajudar a evitar o curto circuito a bordo:
– Mensure corretamente o cabeamento elétrico e as proteções da embarcação para proteger os condutores;
– O cabeamento elétrico que passa perto do motor ou no porão deve ter isolação com proteção contra água, diesel e/ou gasolina e ser resistente a uma temperatura de no mínimo 75ºC;
– Tenha terminais sempre isolados e bem crimpados para não se soltar com a vibração do barco e encostar em algum lugar que cause um curto;
– Não deixe condutores desencapados. Cuidado com quinas afiadas que possam roçar nos cabos rompendo a isolação;
– Os cabos elétricos não devem ficar soltos no porão da embarcação, devem ser sustentados a cada 25 cm no máximo, evitando sua movimentação e esmagamento por pessoas ou objetos durante operações de manutenção;
– Tenha cuidado ao fazer furos na embarcação, especialmente em mastros para não atingir cabos elétricos com a broca;
– Use equipamentos e práticas que evitem a corrosão de terminais e cabos. A corrosão também causa aquecimento e pode derreter equipamentos;
– Não troque fusíveis queimados ou disjuntores por outros de maior corrente, pois assim estará desprotegendo o circuito;
– Lembre-se de instalar a proteção dos circuitos sempre o mais próximo possível das fontes de energia;
E lembre-se: boas práticas em elétrica aumentam a segurança da sua embarcação.
*Pedro Rodrigues é velejador e orientador em Elétrica Náutica certificado pela American Boat and Yacht Council – ABYC
Não perca nada! Clique aqui para receber notícias do mundo náutico no seu WhatsApp.
Náutica Responde
Faça uma pergunta para a Náutica
Relacionadas
Administradora da Marina da Glória, palco de mais uma edição do charmoso evento náutico, terá estande no Espaço dos Desejos
Defensas e porta-celular também fazem parte da lista de dez produtos exibidos pela marca durante o evento náutico
Embarcação de 41 pés representa a primeira do tipo no Brasil e poderá ser vista de perto de 28 de abril a 5 de maio, na Marina da Glória
Com 5 palestras, o dia 3 de maio terá nomes de peso falando sobre a prática ao público do Rio Boat Show 2024
Bióloga e mestre em ecologia está confirmada em bate-papo dentro do Rio Boat Show 2024