Confira tudo o que você precisa saber antes de escolher a capota para o seu barco

03/04/2018

Para esquentar no frio e refrescar no calor; proteger da chuva, do vento e dos raios solares; com estrutura de alumínio ou de inox; de fechamento total ou parcial… Não tem jeito, no Brasil brasileiro, do sol intenso e das chuvas repentinas, quem tem uma lancha aberta ou com flybridge vai, em algum momento, precisar de uma capota. No mar, nossa pele costuma ser bombardeada por uma quantidade muito grande de luz ultravioleta, dos tipos UVA e UVB, que causam o envelhecimento precoce da pele e suscitam queimaduras, podendo provocar até câncer de pele. Tem também aquelas chuvinhas chatas. Daí a necessidade de uma boa cobertura, que deixa o passeio mais agradável e seguro.

O problema é que esse tipo de cobertura quase sempre é oferecido apenas como item opcional pelos estaleiros, exigindo um investimento extra. Mas, qual modelo escolher? Sob medida ou encomenda? Diante das muitas opções do mercado, qualquer um acaba confuso e indeciso na hora da compra. Para facilitar a sua escolha, e reunir as melhores dicas de manutenção, entrevistamos um dos maiores especialistas no assunto: Roberto Bailly, velejador e proprietário da Bailly Capotaria Náutica, profissional com mais de 30 anos de experiência no setor. O resultado você confere a seguir:

Como calcular o tamanho da capota?
Depende da lancha e do projeto. Muitas vezes, o barco tem um espaço grande para ser coberto, ou o proprietário prefere cobrir toda a área. Outras vezes, a lancha tem um local específico (o solário, por exemplo) em que não é desejável uma sombra permanente. Assim, o tamanho é bastante variável.

Qual a altura ideal de uma capota?
Normalmente, é o projeto que vai determinar. No caso de uma embarcação em que o piloto e/ou seus convidados fiquem de pé embaixo da capota, a altura ideal é a que possibilite que ninguém bata a cabeça. No caso de grandes barcos, a capota pode ser bem ampla e alta, o que dá mais conforto. Já uma capota muito alta em um bote pequeno não vai ter área suficiente para oferecer boa proteção. Neste caso, se a cobertura for mais baixa vai proporcionar maior e melhor proteção.

Como escolher o melhor tecido?
Há décadas, o material mais usado para a confecção de capotas é a lona acrílica, com proteção solar, bloqueando os raios ultravioleta. Trata-se de um tecido repelente à água — mas não impermeável —, o que torna o ambiente sob a capota menos abafado. Por ser permeável, permite a passagem do vapor por entre as suas tramas, evitando o efeito estufa. Além disso, tem variadas opções de cores e não desbotam, oferecendo uma combinação perfeita com a decoração do barco. Cerca de 90% dos barcos do mundo usam a lona acrílica na capota. Outra opção de tecido, esta mais econômica, é a lona de poliéster. Porém, este tipo de material é mais usado nas capas de cobertura, que exigem melhor resistência à abrasão. O tempo útil de uma capota varia bastante, dependendo das condições climáticas e dos cuidados dispensados a ela. Uma lona acrílica pode durar até dez anos, contra cerca de três anos do poliéster. Além disso, a qualidade do tecido da lona interfere no conforto. Uma capota feita de lona plástica, por exemplo, deixaria o ambiente quente e abafado.

Qual o melhor tipo de costura? A linha faz diferença?
A lona acrílica tem uma durabilidade incrível, podendo resistir firme e forte por até dez anos, mesmo exposta ao sol. Porém, o fio de costura não acompanha essa duração. Se a costura é feita com uma linha fraca, a capota vai se desfazer, pode apostar, antes mesmo de a lona estar danificada. A linha de teflon é a mais resistente, pois não acaba nunca nem degrada sob o sol. Quer dizer, não vai ser necessário recosturar a capota a toda hora. Enquanto isso, uma boa linha de poliéster não dura mais que dois anos, no máximo, quando exposta ao sol.

Não tem jeito. Quem tem um barco vai, em algum momento, precisar instalar uma capota

Qual a melhor cor para uma capota?
Esqueça o branco, pois esta cor não protege direito, por causa dos raios de sol refletidos da água para o convés. A capota branca reflete esses raios novamente, direcionando-os para cima de quem está no barco. Já uma capota com cor escura oferece, além de conforto visual, aquela sensação de sombra, protegendo melhor contra o sol. As cores mais escuras esquentam um pouco mais, principalmente se a capota for toda fechada. Em compensação, proporcionam maior conforto visual e melhor efeito de sombra.

Quais os modelos de capota mais usados?
A mais comum é a bímini, que não impede a boa circulação do ar e é rebatível, o que é bom para não prejudicar o desempenho durante a navegação. O toldo é o mais básico, usado em veleiros, quando ancorados, para cobrir o cockpit ou apenas a proa, permitindo que a gaiuta fique aberta. Já a capota T-top (estrutura fixa em forma de T) é ideal para lanchas de pesca, pois permite ao pescador dar a volta no barco, passando por fora de sua estrutura, facilitando, consequentemente, a pescaria.

Qual é o melhor material para as ferragens?
As estruturas de alumínio são leves, fortes e duráveis, e ainda custam menos que o inox. Mas, se em seu barco houver outras peças de inox, uma estrutura do mesmo material vai combinar melhor e vai oferecer um padrão mais luxuoso ao conjunto. No caso do alumínio, o fabricante deve usar uma liga especial, anodizada, com uma barreira endurecida na camada superficial, evitando, assim, arranhões e corrosão. No caso do inox, o indicado para a estrutura da capota é o tipo 316, que oxida menos. Para isso, porém, ele precisa ser limpo periodicamente com produtos específicos.

Como saber se as ferragens têm a liga ideal?
Nesse caso, é necessário confiar no fornecedor. É uma relação de confiança. Na Bailly, por exemplo, o material vem todo etiquetado, com informação sobre a liga do fornecedor. Além disso, são feitos testes de molibdênio, com a aplicação de um líquido reagente sobre o inox, para determinar o nível da substância.

Qual é a espessura ideal do tubo da capota?
Depende do tamanho da capota. Se você colocar um tubo muito grosso em uma capota muito pequena, a cobertura vai ficar pesada, sem necessidade. Por outro lado, se você colocar um tubo muito fino em uma capota muito grande, a estrutura ficará fraca. Então, é necessário levar em conta o tamanho da capota.

É melhor reformar a capota antiga ou trocar por uma nova?
Na maioria dos casos, a reforma é possível. Porém, vale a pena trocar a capota quando o tecido estiver danificado ou se ela estiver com estrutura danificada, amassada, condição em que não é possível fazer nada. A vida útil de uma capota depende muito do uso que ela tem e da manutenção, mas existem capotas que duram dez anos em perfeitas condições.

Quando o barco volta do mar, deve-se enxaguar a capota com água doce, para remover o sal, coisa que nem todo mundo faz

Como lavar e prolongar a vida útil da capota?
Para garantir que a capota se mantenha em bom estado, é preciso tomar alguns cuidados na manutenção, como não guardar o toldo quando estiver molhado — sempre que possível, seque-o antes de recolher. A limpeza pode ser feita a seco ou com detergente neutro. Se usar uma escova, ela deve ter cerdas macias e os movimentos devem ser feitos somente no sentido do fio, e nunca devem ser circulares. Se a capota fica mais exposta à sujeira, o intervalo entre uma lavagem e outra diminui. Além disso, cada vez que o barco voltar do mar, deve-se enxaguar a capota com água doce para remover o sal, coisa que nem todo mundo faz. Evitar exposição desnecessária ao sol, lubrificar com silicone os acessórios — botão, zíper — e nunca cobrir a lancha com lona com a capota aberta são outros cuidados básicos. Ah, e se os passarinhos fizerem as suas necessidades sobre a lona, trate de removê-las rapidamente, pois as fezes são muito abrasivas e podem danificar a capota. Quanto ao mofo, o ideal é evitar que o mal chegue. Para isso, basta evitar a sujeira e a umidade, mantendo a capota limpa e seca. No caso de o problema surgir, pode-se usar uma solução de água, cloro e detergente neutro, aplicada com escova de cerdas macias.

É recomendado impermeabilizar?
Sim. A Bailly, por exemplo, faz impermeabilização durante a fabricação, mas, por ser um processo complicado, recorre a uma lavanderia de terceiros. A impermeabilização que vem de fábrica na capota é feita com um material que polimeriza a quente, chamado fluorcarbono. Antes de aplicá-lo, deve-se lavar a capota com uma solução ácida. Depois de aplicado o produto, é feita a secagem, a 80 graus. Esse procedimento tem de ser feito por um profissional. Não dá para o próprio dono fazer.

É melhor navegar com capota aberta ou fechada?
Aqui o que vale é o bom senso. A capota não foi desenhada para ser usada com a lancha em movimento, pois a pressão provocada pelos ventos pode causar danos. Mas, com velocidade baixa, tudo bem. Já em se tratando de uma travessia rápida, contra o vento, é preferível recolher a capota, sob pena de danificá-la e até machucar alguém a bordo. Já na hora de guardar o barco, o ideal é manter a capota fechada, evitando a exposição ao sol, se a lancha estiver em local aberto, e a produção de mofo, caso o barco esteja com capa. Além disso, o peso da capa sobre a capota pode acabar danificando-a.

Quanto mais esticada, melhor?
Durante o uso, deve-se deixar a capota bem esticada. Assim, evita-se que ela paneje e que acumule água — se chover, a água vai escorrer com facilidade. Se a capota estiver mal ajustada, vai acumular água e vai ficar batendo no vento. Já na hora de guardar o barco, a estratégia de fechar ou manter a capota aberta depende do modelo da embarcação. Quando a lancha tem targa, a capota é projetada para ela rebater ali. Então, quando fechada, já fica apoiada na targa. Quando a lancha não tem targa, a capota vai rebater atrás ou em cima do banco. Ou seja, a decisão de fechar ou manter aberta não depende da capota e sim do modelo da lancha. O fechamento total é recomendado quando se tem uma lancha para pernoite ou do tipo daycruiser, com cozinha no cockpit, ou mesmo para o caso de pegar chuva no passeio. Funciona como uma proteção extra. O fechamento é feito na própria lona da capota, com janelas transparentes — de plástico —, para que se possa enxergar o lado de fora.

Quanto custa uma capota?
O preço médio gira em torno de R$ 1,5 mil, mas a variação de preço é muito grande. Uma capota básica, simples, pode custar apenas cerca de R$ 400, contra até R$ 50 mil de uma megacapota luxuosa, com acionamento hidráulico e acabamento refinado.

Para limpar

A Nautispecial, especializada em produtos de limpeza para barcos, conta em sua linha com um impermeabilizante, que promete aumentar a vida útil da capota. Além disso, tem um detergente neutro, o Lava Lanchas sem cera, que também pode ser aplicado na capota. Como é 100% neutro, não tira a impermeabilização natural da capota. Tem ainda o Limpa Inox, que protege o aço e dá brilho, e o Silicone Náutico Spray, que evita que o sal se deposite no zíper, engripando e travando.

A capota não foi desenhada para ser usada com o barco em velocidade alta, pois a pressão do vento pode causar danos. Em passeios curtos e em baixa velocidade, tudo bem

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