Como uma pénichette pode ser uma deliciosa maneira de explorar os rios da França

Por: Redação -
18/07/2019

Passar férias a bordo de uma pénichette é um programa que vem conquistando mais adeptos a cada ano na Europa. Além de ser uma maneira original de conhecer minuciosamente uma região através de suas águas interiores e escapar do lugar comum, esse tipo de turismo fluvial é também uma opção de lazer surpreendentemente em conta! Não parece, mas é muito fácil timonear uma pénichette. Esta versão diminuta das “chatas”, ou péniches, comerciais foi se estilizando, para se adaptar ao turismo fluvial. Só na França, há cerca de 40 locadoras especializadas nelas, com frota própria.

Em Louhans, no centro-leste da França, um dos pontos altos do roteiro é a igreja de Saint-Pierre, de estilo gótico do século 14

Como o manuseio é de uma simplicidade infantil, as companhias não exigem sequer habilitação ou experiência prévia dos turistas para pilotar o barco. Só ensinam como proceder numa eclusa com uma rápida demonstração prática na hora de entregar as chaves e ao mesmo tempo explicam as regras básicas da navegação nos canais. Como nas estradas, trafegá-se pelo lado direito. Além disso, é proibido transitar à noite e, quando for passar uma eclusa, deve-se dar prioridade às grandes péniches, que ainda fazem o transporte de mercadorias pelos canais.

No itinerário estão a eclusa de Painfaut, a mais florida do Canal de Bourgogne

O turismo fluvial é muito simples. A vida a bordo também, porém, longe de ser monótona. Além da diversão que é poder comandar um barco, levando família ou amigos, e fazer o itinerário no seu ritmo, com toda a liberdade para parar onde der vontade, o convés de sua pénichette é como uma sala de cinema, onde se pode assistir a belos cenários que vão mudando lenta e continuamente. Em média, navega-se entre três e quatro horas por dia, mas um dia de cruzeiro fluvial rende muito e tudo é sempre flexível. Quem quiser fazer um passeio pode desembarcar e sair pelo “chemin de halage”, que ladeia o canal e é de uso exclusivo de pedestres e ciclistas. O mais prático e seguro é entrar e sair do barco enquanto estiver dentro de uma eclusa, durante a manobra.

Canal de Midi, uma das regiões mais procuradas

As pénichettes são fabricadas em diversos tamanhos, com capacidade para até 12 pessoas. Há várias marcas, tipos e categorias. E há sempre pacotes, ofertas e promoções com descontos, em todas as estações do ano. Em tempo: a temporada se estende de março a outubro. Todos os barcos possuem camarotes individuais, cama de casal ou duas de solteiro, calefação, sala de estar, cozinha equipada e banheiro com chuveiro de água quente — a locadora fornece roupa de cama, mas nem sempre toalhas. É privacidade e conforto garantido. Navegando a não mais que 10 km/hora, uma pénichette é tal qual um lar flutuante. Portanto, exige que a tripulação se empenhe em outras tarefas, além da navegação.

Há barcos de vários tamanhos, geralmente entre 9 e 15 metros de comprimento, para um casal ou até 12 pessoas

Muito embora haja sempre tempo de sobra para não se preocupar com absolutamente nada, é preciso limpar, jogar o lixo fora e sempre arrumar as coisas no barco. Conte com idas ao supermercado, e, claro, à boulangerie (padaria) da esquina, para comprar baguette e croissants fresquinhos de manhã. Afinal, cozinhar a bordo é divertido, mas considerando que estamos na França, também não falta lugar para comer bem. Em qualquer cidadezinha, por menor que seja, haverá sempre um cardápio apetecedor. Porém, fique atento aos rígidos horários franceses: o almoço é do meio-dia às 15h e janta-se entre 20h e 21:30 h.

Mesa garantida, só com reserva, mas não precisa se preocupar com a roupa, porque nos restaurantes locais o traje é sempre informal. Só não esqueça de colocar na mala um agasalho impermeável. Pode chover em qualquer época. Numa pénichette, a única restrição é a de água. Precisa economizar e acostumar-se rapidinho a usar com moderação, pois a capacidade do tanque é pouca e nem todo cais tem água, caso você necessite reabastecer a cada fim do dia. Se ancorar às margens de uma floresta, no meio do nada, aí não tem o que fazer, e sem água dentro de um barco, não há bom humor que resista.

É possível estender o passeio até a Bélgica, Alemanha, Holanda ou Suíça, onde também são amplas as vias navegáveis, mas só na França existem 9 mil quilômetros de vias navegáveis e vários roteiros para percorrer de barco: Bretanha; Champanhe; Borgonha e Nivernais; Charente; Alsácia e Lorena; Est e Picardia; Midi e Camarga; e Maine e Anjou. Os itinerários são variados e o número de eclusas também. Quanto menos, mais ágil fica o percurso. Ao escolher a sua viagem, pense nisso. As regiões mais procuradas são os canais do Midi, Borgonha, Champanhe, Loire e Bretanha. Há duas modalidades de trajeto: ida e volta no mesmo porto de embarque ou o simples, zarpando de um porto e desembarcando em outro. Os pacotes são ajustados por semanas, fins de semana e minissemanas (de quarta a domingo). As reservas devem ser feitas com pelo menos três meses de antecedência.

Na região da Bretanha, no oeste da França, destaque para o porto e o Castelo de Josselin, na beira do canal

Um dos roteiros mais procurados na França é o Canal do Midi, que faz a ligação de Toulouse a Thau e é o mais antigo canal marítimo da Europa ainda em funcionamento. Idealizado no século 17 como solução econômica, militar e política para levar mercadorias do Mediterrâneo ao Atlântico sem precisar contornar a Espanha pelo estreito de Gilbratar, o canal foi inaugurado em 1681. Hoje, sua função é exclusivamente turística. São mais de 50 mil visitantes que trafegam ao longo de seus 240 km de extensão a cada ano. O canal pertence desde 1996 ao Patrimônio Mundial da Humanidade.

Ao todo são 9 mil quilômetros de vias navegáveis em toda a frança, e você define o trajeto

Ao longo do caminho, são encontradas 350 obras de arte, entre pontes, eclusas e aquedutos. É um belíssimo traçado que atravessa regiões como Languedoc, Aube e Minerve, passa por importantes centros, como Béziers, Narbonne e Toulouse, e bordeja cidades históricas. Le Somail, Homps, Trèbes, Narbonne, Carcassonne e Castelnaudary são apenas algumas. Em cada uma, há sempre atrações variadas, como festivais gastronômicos ou feiras de artesanato.

As pénichettes passam por pontes, eclusas e áreas dedicadas à vinicultura. Nesta, a pedida é abastecer o barco com garrafas de vinho da Borgonha

Não se pode esquecer que a pénichette é uma casa que desliza pelas águas preguiçosas de um canal. E, como em todo o lar, há sempre alguma tarefa a ser cumprida: cozinhar, arrumar, limpar… Só aos poucos as pessoas se adaptam ao ritmo vagaroso e se acostumam com a rotina. No começo, o espaço parece um pouco reduzido. A metragem pode ser inferior à de uma sala de estar. Por isso, a casa pode virar o caos em dois minutos. Cada um organiza a sua própria bagunça e assume o timão. Durante a manobra nas eclusas, também é preciso escalar um ou dois ajudantes.

Uma das melhores opções para quem só tem uma semana para explorar o Canal do Midi é começar o passeio em Béziers, embarcando na base náutica da operadora Rive de France, em Colombiers. Assim, a devolução do barco vai se dar 145 km adiante, em Le Ségala. Dessa forma, o turista aproveita melhor o tempo sem repetir nenhum trecho do percurso. Nesse itinerário, o número de eclusas é 58, totalizando cerca de 30 horas de navegação.
Antes de partir, é fundamental fazer um cálculo de quantos quilômetros precisam ser percorridos por dia, a fim de chegar ao destino final na data marcada.

As companhias não exigem sequer habilitação ou experiência prévia dos turistas para pilotar o barco. Só ensinam como proceder numa eclusa com uma rápida demonstração prática na hora de entregar as chaves

Em média, gasta-se de 20 minutos a meia hora para ultrapassar cada eclusa. Dependendo do tráfego fluvial, este tempo pode se estender até uma hora. Se chegar em cima da hora ou atrasado, o jeito é amarrar a pénichette numa das margens e aguardar. E, se já estiver perto das 18 h, passar a noite por ali. Não se trata de um grande problema. Dependendo da época do ano, só anoitece depois das 20 h e o pôr do sol ainda oferece um espetáculo extra. Uma oportunidade para curtir momentos deliciosos em clima romântico.

Entardecer na bretanha: o roteiro que vai do Canal de Nantes a Brest concentra diversas construções medievais. Como o castelo de Josselin

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