Cabos elétricos estanhados são imprescindíveis em barcos?

Por: Redação -
02/02/2022

Por Pedro Rodrigues*

Quando vamos fazer a lista de materiais para fazer a instalação de um novo equipamento elétrico a bordo, uma dúvida que surge é em relação à necessidade de se investir em cabos de cobre estanhados, ao invés do cobre nu, tradicional. Mas para que servem esses cabos com o filamento de cor prateada? Eles são realmente imprescindíveis a bordo? Vale a pena investir o dobro para usar cabos estanhados? Confira abaixo:

 

O cobre é um dos materiais que melhor conduzem eletricidade e, se considerar seu custo-benefício, não é à toa que é o condutor mais utilizado em instalações elétricas. Porém, a maresia e a umidade do ambiente náutico, o deixam muito suscetível à corrosão, que no caso do cobre se apresenta em forma de zinabre: aquele verdinho, como o que cobre a Estátua da Liberdade.

 

Mas o problema não é meramente estético. Essa corrosão, quando está começando, causa perda de condutividade, ou seja, aumenta a resistência à passagem de corrente elétrica, o que causa um aquecimento do condutor, maior consumo de energia e uma queda de tensão que muitas vezes prejudica o funcionamento dos equipamentos. E quando a corrosão avança é pior ainda, pode causar até a ruptura do condutor.

Cabos zinabrados e conector partido por zinabre (Fotos: Pedro Rodrigues)

Já o estanho, apesar de ter apenas 15% da condutividade do cobre, possui uma maior resistência à corrosão e, por isso, na fabricação dos cabos estanhados é aplicada uma camada extremamente fina deste elemento sobre os fios de cobre a fim de protegê-los contra a corrosão, sem uma perda relevante da sua condutividade.

 

Mas estanhar a ponta do cabo com o ferro de solda não resolve este problema?

Muitos eletricistas e muitos praticantes do “faça você mesmo” (ou DIY, em inglês) tem o hábito de, com o ferro de solda, derreter uma liga de estanho com chumbo (normalmente usada para soldas dentro de equipamentos eletrônicos), revestindo as pontas ou conexões do cabo. Fazendo isso, a ponta do cabo estará mais protegida contra a corrosão, mas o restante não.

 

A corrosão ainda pode acontecer por baixo da capa de isolação penetrando por mais de 30 centímetros cabo adentro. Além disso, o estanho aplicado dessa maneira não tem um controle de espessura e deixa uma camada mais grossa que enrijece essa parte do cabo, o deixando mais quebradiço e ele pode até se romper com a vibração e movimentação do barco.

 

Em terminações de cabo que vão se conectar a um equipamento, se houver um aquecimento do cabo, a solda pode derreter e grudar no equipamento, retirando a proteção daquela parte do cabo e tornando mais difícil sua remoção. Por isso, a ABYC desaconselha essa prática em barcos e a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) proíbe também em instalações prediais.

Ponta do cabo com zinabre e solda de estanho derretida (esquerda) e conector com resto de solda (direita)

Então, os cabos estanhados são de uso obrigatório em embarcações?

Por mais que a utilização de cabos estanhados seja um dos principais jeitos de mitigar problemas com corrosão, é difícil encontrar lojas que os comercializem, inclusive na espessura e cor adequadas ao projeto, especialmente em cidades menores, onde se encontra boa parte das marinas no Brasil.

 

Porém, pela internet pode-se comprar de fabricantes, que tem todas as espessuras e cores, vendem a metro e entregam em poucos dias. Caso não possa esperar, não precisa se preocupar, pois o uso de cabos estanhados não é obrigatório e, na maioria dos sistemas elétricos, o cabo de cobre nu também pode ser usado.

 

A American Boats and Yachts Council (ABYC) – organização americana que serve de referência mundial em estudos e normas técnicas para embarcações de recreio – não exige o uso de cabos estanhados para instalações elétricas, porém, para garantir uma maior durabilidade dos circuitos utilizando o cobre nu, é bom caprichar nas terminações e conexões, fazendo-as de maneira que vede a entrada de ar e maresia e isso pode ser feito de vários modos.

 

O melhor é usar conectores com isolação termo retrátil próprios para o meio náutico, porém como estes são difíceis de achar no mercado nacional, pode-se fazer de outras formas: cobrindo as conexões com um tubo termo retrátil adesivado, com fita isolante líquida, ou até mesmo com fita de autofusão bem aplicada, por exemplo, sempre cobrindo os pontos por onde o ar pode entrar em contato com o cobre. Quanto mais caprichada for a conexão, maior será a durabilidade do condutor.

Da esquerda para direita: conector náutico termo retrátil, conector protegido por tubo termo retrátil, borne de conexão que não veda o cobre e zinabrou

Quer mais dicas?

Hoje em dia, ainda é possível encontrar com maior facilidade cabos solares, isso é, cabos utilizados em sistemas de geração de energia solar que tem uma isolação com dupla proteção contra raios UV, são mais flexíveis que os cabos comuns e que tem seus filamentos de cobre estanhado.

 

Apesar de ter uma espessura final maior, em função da sua dupla camada protetora, estes podem ser usados como uma alternativa duradoura nas instalações, caso tenha dificuldade de encontrar outros cabos e queira garantir a melhor qualidade possível do seu sistema elétrico.

 

Uma dica, caso queira economizar, é optar também por usar cabos estanhados em apenas alguns circuitos do seu barco, como aqueles que estão no ambiente externo, mais suscetível à corrosão, ou nos principais consumidores de energia como a geladeira, por exemplo.

 

Quando for instalar um cabo novo, evite emendas. O ideal é seguir sempre com um mesmo cabo de ponta a ponta do circuito. A corrosão começa sempre de um ponto sem isolação e se espalha por baixo da capa protetora do cabo.

 

Para finalizar, seguem mais algumas informações importantes para escolha do cabo:

Procure escolher os cabos no padrão certo de cores, de acordo com sua função no circuito. Caso não possa, marque nas pontas com a cor correta;

Calcule a espessura considerando a corrente que ele vai conduzir, a distância do circuito (ida e volta) e a queda de tensão máxima admitida;

Verifique a temperatura e proteção da isolação do cabo;

Não utilize fio rígido em embarcações. Quanto mais filamentos o cabo tiver, mais flexível ele será, e isso permitirá uma melhor adaptação às curvas em seu trajeto pela embarcação;

E, por fim, lembre-se: boas práticas em elétrica aumentam a segurança da sua embarcação.

*Pedro Rodrigues é velejador e orientador em Elétrica Náutica certificado pela American Boat and Yacht Council – ABYC

 

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