Confira o relato da fotógrafa brasileira que se aventurou pelo Oceano Atlântico de carona

Por: Redação -
24/05/2021
Fotos: Jéssica Lourenzo (@lourenzo.jessica)
Por Jessica Lourenzo*

Cheguei ao Brasil em novembro de 2019, depois de um intervalo de três anos longe do país tropical. Mas minha alma inquieta fez com que, em janeiro de 2020, eu saísse mochilando pelo nordeste brasileiro, sem um roteiro ou tempo pré-definido, pedindo caronas, realizando freelas e permutas, conhecendo novas pessoas e destinos, revisitando lugares… E foi durante uma conversa com um amigo espanhol que fiz em Fortaleza que surgiu a ideia de pegar carona em um veleiro. “Já que você viaja sempre de carona, quero ver chegar aqui na Europa assim”.

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Eu já sabia das possibilidades de pegar caronas em território nacional nos aviões da FAB, mas não tinha conhecimento algum sobre caronas internacionais, sobretudo marítimas. Enquanto estava com ele ao telefone, comecei as primeiras pesquisas no Google e logo vi alguns blogs que falavam sobre essa espécie de “hitchhiking”. Fiz um perfil de forma completamente despretensiosa no Findacrew e, em menos de uma semana, estava a bordo de um Catamaran Lagoon 450.

Uma viagem em alto mar com desconhecidos

Era para ser meu “ano sabático” e uma daquelas viagens perfeitas, a bordo de um veleiro, singrando por águas caribenhas até chegar na Europa. A viagem por cada ilha deveria durar de duas a três semanas (ou o tempo que a gente quisesse ficar), mas fomos surpreendidos com a pandemia e logo tudo mudou…

Embarquei em Natal e naveguei na companhia do capitão (americano) e de dois tripulantes (russo e bioleorusso) até Fortaleza, onde recebemos o quinto membro (um espanhol). Foram 15 dias de navegação até chegar ao Caribe. Durante a travessia fomos surpreendidos com o lockdown em diversos países, como a Guiana Francesa e Trindade e Tobago. Chegamos em Barbados um dia antes do lockdown e ficamos em quarentena em Bridgetown, a capital.

Estávamos com o nosso estoque de comida por um fio e a ordem dada pela imigração era de que ninguém poderia deixar a embarcação, sujeito a multa de 50 mil dólares ou 1 ano de reclusão. Todos os supermercados da ilha estavam fechados e depois passou a funcionar com um esquema de rotatividade, cada grupo em base a inicial do sobrenome poderia sair para fazer compras. Continuamos ancorados por pouco mais de um mês.

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A vida no mar e a rotina dos tripulantes

Se engana quem pensa que pegar carona em veleiros é só apreciar a vista. Quando estamos em alto mar navegamos no modo no stop. Inicialmente nos dividíamos em duplas, alternando em turnos de oito horas – meu turno começava às 23h e terminava às 7h, que era quando o capitão assumia. Voltava ao turno às 15h e íamos alternando em turnos de quatro horas até chegar ao turno inicial de oito horas, que era sempre no mesmo período – uma dupla na madrugada, outra na manhã.

Com a chegada do 5º membro (o tripulante espanhol), passamos a nos alternar a cada quatro horas. Acho que já deu para perceber que o tempo de sono é curto. Descansamos algumas poucas horas, preparamos algo para comer e logo voltamos a trabalhar.

Por mais cansativo que possa parecer, é uma experiência única e riquíssima. E, claro, entre um perrengue e outro conseguíamos nos divertir, beber, ouvir música, jogar e aproveitar ao máximo da vida a bordo.

Quarentena em terra

Depois da quarentena nas águas cristalinas do Caribe, alguns consulados começaram a abrir voos emergenciais. O tripulante espanhol foi o primeiro a voltar para casa. Os voos naquele período custavam o triplo do valor cotados em tempos normais (eis aqui um dos riscos de viajar durante a pandemia). Continuei no barco por mais algumas semanas, já que não havia previsão de voos para o Brasil ou Itália. A situação no barco durante o lockdown passou a ser tensa, mas graças a um oficial da Guarda Costeira consegui autorização para seguir quarentena em terra, até surgir a possibilidade da repatriação.

Um amigo barbadiano me ofereceu uma carta convite e me hospedou durante a nova quarentena em terra. Nesse período, tivemos a sorte do funcionamento na ilha voltar gradativamente – era permitido o acesso às praias e o serviço de delivery. Passamos dias de paz absoluta, comendo raízes e verduras da horta que havia no quintal da casa, visitando as praias, tendo contato direto com locais (seguindo todas as medidas protetivas, claro). Literalmente, um sonho dentro de um sonho.

Depois de um mês em terra, ainda sem voos emergenciais, o consulado me ofereceu como alternativa embarcar em um voo fretado por uma das companhias de navios que estava repatriando seus funcionários. Resolvi aceitar pela incerteza do quanto duraria aquela situação completamente nova para todos, mas o arrependimento bateu já no momento em que as portas do avião se fechavam. Como me encaixaram em um voo privado não tive algum custo (e que sorte!). O voo fez conexão em São Paulo, onde passei alguns dias hospedada na casa de um amigo recifense até conseguir voltar para Recife.

*Fotógrafa, criadora de conteúdo e amante do mundo náutico.

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