No aniversário de São Paulo, entenda o papel que os rios tiveram na ocupação da cidade

Por: Redação -
25/01/2021
Rio Tietê antigamente, local que recebia diversas regatas e esportes náuticos - Imagem: Reprodução

São Paulo, que completa 467 anos nesta segunda (25), é uma cidade cheia de paradoxos. Um deles, certamente, é em relação aos seus rios que, hoje, são tomados pela poluição da metrópole e se transformaram em esgotos a céu aberto. Entretanto, tais rios foram os responsáveis pela ocupação da cidade e de sua região metropolitana. Além disso, historicamente, os rios são os “culpados” de um fenômeno tipicamente paulistano: as enchentes.

Inscreva-se no canal de NÁUTICA no YouTube e ATIVE as notificações

No entanto, para entender o papel histórico e cultural dos rios da capital, é necessário voltar no tempo, pelo menos, 467 anos. A mancha urbana estabelecida pela cidade, até meados do século XIX, restringia-se a uma colina cercada por dois rios: o Tamanduateí e o Anhangabaú. A ocupação do território paulista está intimamente relacionada à presença desses rios.

O Anhangabaú era considerado sagrado pelos indígenas e não era muito utilizado. Sinuoso e de difícil navegação, logo foi soterrado. Primeiro retificado, depois canalizado, deixando de existir. Portanto, todo protagonismo fluvial da cidade era voltado ao Tamanduateí.

O potencial de navegação desse rio teve importância fundamental para o estabelecimento das relações comerciais na vila de São Paulo. Produtos vindos de fazendas mais distantes ou mesmo do litoral, eram transportados em pequenas embarcações. Fora àqueles que se locomoviam através dele.

Registro de 1862 com o Pateo do Collegio no alto e Rio Tamanduateí na parte inferior da foto – Imagem: Reprodução/São Paulo in foco

À época, existiam muitos estrangeiros que visitavam e estudavam essas localidades. Dentre eles, o botânico francês, Saint-Hilaire, afirmou sobre o Tamanduateí:

 “Serpenteando através das pastagens úmidas, [dava] mais encanto à paisagem”

Em cima disso, o historiador Afonso Taunay relatou que em dias de calor o Rio e sua várzea constituíam pontos de encontro e de lazer. “Bandos e bandos de indivíduos iam banhar-se no Tamanduateí e nas lagoas por ele formadas”.

Vista do rio Tamanduateí, entre os bairros da Luz e do Pari, região central de São Paulo, em foto de 1906 – Imagem: Reprodução/Garoa Histórica

Se os cursos d’água desempenharam um papel fundamental para o desenvolvimento da cidade fornecendo alimentos, facilitando a circulação de mercadorias e proporcionado recreação; ao mesmo tempo, eles também tinham a função de encaminhar para longe a sujeira produzida pelos moradores. Infelizmente, esta função prevaleceu, o que culminou em consequências desastrosas para a cidade.

Mas, você pode estar se perguntando: e os rios Tietê e Pinheiros?

Apesar de muito importantes, não apenas para ocupação de São Paulo, mas para a colonização do Brasil, esses dois rios demoraram um pouco para aparecer no curso da história, “descobertos” apenas em meados do século XVII. O Pinheiros, que tem sua nascente próximo a Serra do Mar, hoje, corta boa parte da cidade de São Paulo, até desaguar no Tietê.

Ainda sobre o Pinheiros, o padre Fernão Cardim fez uma viagem, em 1595, em que relata o curso do Rio. No livro “Tratados da Terra e Gente do Brasil”, o jesuíta descreve o Pinheiros como um rio encantado, cercado de fauna e flora. À época, ele era sinuoso e de corredeira.

O Tietê, por sua vez, ao contrário da maioria dos rios brasileiros, se volta para o interior e não para o oceano. Característica que o tornou um importante instrumento na colonização do Brasil. Com o passar do tempo, a partir do século XVIII, o bandeirismo paulista, que era todo feito a pé, passou a utilizar o Tietê para chegar ao interior do estado.

A bordo de canoas longas e estreitas, aproveitando que o rio “corria ao contrário”, se instalou na região, e mais tarde em todo Brasil, as chamadas Monções, que eram expedições fluviais que ligavam os estados de São Paulo e Mato Grosso. Além disso, já na metade do século XVIII a exploração da cultura do açúcar começou a provocar o desmatamento das margens do rio.

“A Partida da Monção”, quadro de 1897 de Almeida Júnior pertencente ao Acervo do Palácio dos Bandeirantes

Leia mais:

>> Ventura Marine irá inaugurar revenda na Avenida Bandeirantes, em São Paulo

>> Rio Tietê recebeu expedição de jets no início do mês

>> Novas marinas e incentivo ao turismo náutico: conversamos com Fausto Franco, secretário de Turismo da Bahia

Em 1900, já existiam empresas que jogavam lixo no Tietê, mas ainda assim, nas décadas de 1920 e 1930, o rio era utilizado para pesca e atividades desportivas. Naquela época, clubes de regatas e natação foram criados ao longo do rio: as disputas de esportes náuticos chamavam atenção de toda a cidade.

Rio tietê na década de 1940, ao fundo, a Ponte das Bandeiras

No entanto, entre 1940 e 1970 a população de São Paulo triplicou, indo de 2 milhões de habitantes para 6 milhões. Fora isso, a atividade industrial também se intensificou.

O resultado? Os principais rios da cidade sofreram pelo descaso da população e das empresas, deixando esse marco negativo na história e no presente da cidade. Alguns filósofos gregos diziam que era impossível entrar duas vezes no mesmo rio. Pois bem: quem entrou, entrou. Quem não o pôde, provavelmente não o fará.

Gostou desse artigo? Clique aqui para assinar o nosso serviço de envio de notícias por WhatsApp e receba mais conteúdos.

Náutica Responde

Faça uma pergunta para a Náutica

    Relacionadas

    Confira um compilado com os mais de 60 barcos que estarão nas águas do Rio Boat Show 2024

    Iate, veleiros, catamarãs, lanchas e botes estarão atracados na Baía de Guanabara, de 28 de abril a 5 de maio

    Porsche exibe carros esportivos de luxo no Rio Boat Show 2024, incluindo sedã híbrido

    Com dois modelos, especialista em carros de luxo terá estande no famoso Espaço dos Desejos

    NÁUTICA Talks: em clima de Olimpíadas, CBVela explica sucesso do Brasil na vela

    Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVela, e Luiz Guilherme, head de marketing da confederação, falarão sobre o tema no Rio Boat Show

    No NÁUTICA Talks, Guilherme Guimarães conta porque ilha no Caribe tornou-se o paraíso dos brasileiros

    Recifense que mora no local há mais de 20 anos vai contar tudo que quem pretende ir à ilha precisa saber; palestra acontece dentro do Rio Boat Show 2024

    No NÁUTICA Talks, Yuri Benites descortina turismo náutico no Lago de Itaipu

    Diretor de Turismo na Fundação PTI integra agenda de palestras durante o Rio Boat Show 2024