Manual da ancoragem: saiba tudo sobre âncoras e como atracar com segurança

Equipamento pode ter diferentes formas e adequações; saiba qual faz mais sentido para o seu barco

Por: Redação -
08/12/2023

Já passou pela sua cabeça que, para permanecerem parados na água, mesmo os barcos mais modernos dependem de um primitivo peso preso a eles? Nada mais eficiente para impedir que um barco se mova do que as âncoras, equipamentos tão antigos quanto a própria história da navegação. Por isso, NÁUTICA preparou um manual da ancoragem completo!

Não custa lembrar que há a exceção dos modernos sistemas de “ancoragem por satélite”, como o Sistema ‘DGPS’ da Volvo Penta. Ele literalmente ancora o barco em uma determinada coordenada geográfica, contudo, isso requer que os motores fiquem ligados e a propulsão seja acionada em curtos espaços de tempo — mas isso é assunto para outro dia.

Voltando às âncoras, a principal característica evolutiva é que, ao longo do tempo, elas sofreram mudanças na forma e na concepção, tornando-se bem mais eficientes e confiáveis.

 

Primeiramente, as pedras usadas nas embarcações do passado deram lugar ao ferro — por este motivo, “ferro” é um dos nomes pelos quais as âncoras são conhecidas.

Foto: Minuto Náutico / Reprodução

Depois, as âncoras passaram a ser feitas de aço e, mais recentemente, de alumínio. Este último, um material bem mais leve e apropriado para se transportar a bordo, já que a função do peso numa âncora é apenas levá-la até o fundo. O que segura uma embarcação de fato são as “patas”, ou garras da âncora, como mostra a imagem acima.

Tudo sobre âncora: a anatomia de uma boa âncora

Anete

O anete é a manilha ou o anel que é ligado ao furo da haste, no qual se prende a amarra. No caso de corrente, é aconselhável usar também um destorcedor, para evitar nós na amarra.

Haste

Além de unir a amarra às patas, que é a parte que prende a âncora ao fundo, a haste é uma das peças mais pesadas do ferro e ajuda na sua fixação. Quanto mais próxima do solo ela ficar, melhor a eficiência do fundeio.

Unhas

As unhas são as pontas das patas e as partes que de fato “espetam” o solo. Numa boa ancoragem, elas desaparecem no fundo e não ficam visíveis.

Patas

A patas são as partes que enterram e fixam a âncora no solo.

Cepo

Parte perpendicular à haste, o cepo serve para derrubar e posicionar a âncora, de forma que as patas penetrem bem no fundo.

Cruz

Junção entre a haste e o cepo, a cruz pode ser usada para soltar a âncora, quando não se consegue içá-la pela haste.

Não basta apenas a âncora ser boa. Neste manual de âncoras você vai perceber que o cabo (ou “amarra”) também tem que ser de qualidade para uma ancoragem segura.

A importância de uma boa amarra na âncora

Para ser eficiente e segura, qualquer âncora depende muito do tipo de cabo preso a ela: a “amarra”. Uma boa amarra precisa ser resistente, mas também ter certa elasticidade, a fim de absorver o movimento da água na superfície. Deve, ainda, ter algum peso, para não flutuar e acabar “puxando” a âncora para cima.

 

As amarras de cabo de náilon de três cordões são as mais usadas, mas as melhores são as de corrente de aço, já que resistem ao atrito com eventuais pedras no fundo. Também por serem mais pesadas, elas formam uma curvatura dentro d’água que suaviza os trancos e forçam a haste da âncora a ficar na posição horizontal, unhando melhor o fundo.

No entanto, além de difíceis de manusear — cada metro de corrente de oito milímetros pesa cerca de um quilo e meio –, as amarras de metal só podem ser empregadas em barcos que tenham guincho e lançador de âncora para guiá-las, porque, do contrário, serão muito pesadas para puxar na mão e o ferro, ao subir, ainda baterá no casco. Por isso, não são indicadas para a maioria dos pequenos barcos.

 

Há, no entanto, uma solução intermediária, que consiste em ter apenas um pedaço de corrente na parte que une a âncora à amarra. É a melhor solução para barcos de pequeno até médio porte. Além disso, há também a manilha, uma espécie de anel de metal que fixa a ponta da amarra à âncora e que deve sempre ser a maior possível.

Quanto ao diâmetro da amarra, depende do tamanho do barco e do material do qual ela é feita. Se for um cabo de náilon de três cordões, ele deve ter, no mínimo, 12 mm de espessura para barquinhos de 20 pés de comprimento, ou 16 mm para embarcações de 30 a 40 pés. Lembre-se: pouco adianta ter uma boa âncora se a amarra e a manilha não tiverem a mesma qualidade e resistência.

Quantos metros de amarra preciso para ancorar?

A regra básica da ancoragem segura é soltar na água entre três e dez vezes a distância até o fundo. Quanto maior for a amarra, mais eficiente será o fundeio. Já barcos que usam um pedaço de corrente junto ao ferro, devem ter, pelo menos, dois metros e meio de amarra antes da ligação com o cabo de náilon.

5 passos do bom uso da âncora:

1. Escolha um local bem abrigado e com espaço livre o bastante para o seu barco girar totalmente sem tocar em nada (considerando o comprimento da amarra a ser lançada) — especialmente em outros barcos. Prefira, quando possível, os fundos de areia, cascalho ou lama, nesta ordem.

 

2. Ancore sempre contra o vento e a correnteza — ou a resultante dessas duas forças –, para o barco não ser empurrado sobre a amarra, que assim pode se enroscar no leme, no hélice, ou, se for um veleiro, na quilha.

 

3. Depois de jogar a âncora, dê ré, em baixíssima velocidade, para a âncora unhar bem o fundo. Quando não conseguir mais segurar a amarra com as mãos, é porque o ferro unhou bem. No caso de um barco com guincho elétrico e corrente, verifique seu deslocamento com base em um ponto fixo em terra e sinta se o barco deu uma pequena cabeçada, o que demonstrará que a âncora está bem presa ao fundo.

 

4. Solte uma quantidade de amarra na água equivalente à profundidade do local, na proporção de, no mínimo, três a cinco vezes mais corrente ou cinco a dez vezes mais cabo do que a profundidade medida no lugar.

 

5. Ao içar a âncora, posicione o barco exatamente sobre ela, para facilitar a operação, mas nunca passe com o barco sobre a âncora, para não forçar sua haste.

Como saber se o barco está bem preso ao fundo

A maioria dos problemas no fundeio acontece não pelo rompimento da âncora ou da amarra, mas sim porque o ferro “garra” no fundo — o que, no entanto, no jargão náutico, significa exatamente o contrário do que parece. Ou seja, que a âncora está sendo “arrastada” e não “agarrou” no fundo coisa alguma.

Por isso, além de não confundir os termos, é preciso, depois de lançar âncora, verificar se ela unhou o fundo — este sim o termo correto. Para tanto, enquanto o barco estiver seguindo à ré, segure ou verifique visualmente bem a amarra. Quando não mais aguentar segurá-la, é porque o ferro “unhou” — ou quando o barco segurar no lugar com uma pequena cabeçada.


Mas, se ainda conseguir segurá-la, é sinal de que a âncora está “garrando” — ou seja, sendo arrastada no fundo. Nesse caso, solte mais cabo. Mas, se mesmo assim o ferro continuar sendo puxado pelo barco, recolha e recomece a manobra inteira. Não adianta ter pressa. Na hora de ancorar, é sempre bom duvidar.

Danforth ou Bruce? Qual, afinal, é a melhor âncora?

A resposta é: depende. As âncoras do tipo Danforth e, principalmente, Bruce, são as mais usadas pelos donos de barcos no Brasil. Mas elas são bem diferentes entre si, tanto no formato quanto no desempenho.

 

As Danforth se caracterizam por terem duas patas paralelas e pontiagudas, que, não importa o lado que caiam na água, conseguem unhar o fundo, porque a haste se move e sempre permite o contato com o solo. Mas, por possuírem haste e cepo longos, ocupam mais espaço no paiol e exigem cuidado no manuseio, já que a haste se move e pode machucar as mãos.

Âncora Danforth. Foto: HW Âncoras / Divulgação

Já as âncoras Bruce têm três patas e haste fixa e curta, o que as tornam mais compactas e seguras. Também em fundo de pedras são mais resistentes e unham rapidamente na lama, o que nem sempre acontece com as Danforth, que, no entanto, são imbatíveis em fundos de areia.

Âncora Bruce. Foto: HW Âncoras / Divulgação

Também na relação peso X eficiência, as Danforth — especialmente as de alumínio — dão um banho nas Bruce. Sua desvantagem é o preço, bem mais alto, especialmente as importadas, como a da marca americana Fortress, considerada uma das melhores do mundo e razoavelmente vendida no Brasil.

 

O índice de resistência de uma Danforth da marca Fortress (ou seja, a força que ela aguenta para cada quilo que pesa), chega a ser sete vezes superior ao das melhores Bruces nacionais — que, no entanto, costumam ser as mais vendidas por aqui, justamente porque custam menos e são mais compactas do que as Danforth.

 

Qual é a melhor? Bem, como se vê, depende do tamanho do compartimento da âncora no barco e do tipo de fundo que há no local onde ela for ser usada com mais frequência.

Há novos modelos com novidades no desenho que estão fazendo muito sucesso nos Estados Unidos, como os modelos ‘Rocna’ e  ‘Mantus’, que apresentam alto grau de eficiência em relação a Bruce’e não têm partes móveis como as Danforth, além de serem compactas.

 

Enfim, boas opções há, e levando isso em consideração, uma coisa é certa: esse guia de ancoragem mostra que, economizar na âncora, é colocar em risco a sua própria segurança.

 

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