Fórmula 1

Por: Redação -
31/05/2015

O campeonato mundial de Fórmula 1 de barcos surgiu no final de 1980 quando pilotos e equipes se dividiram sobre o melhor rumo para estabelecer uma categoria principal da motonáutica mundial. Isso foi agravado pelos dois fabricantes de motores rivais, a Mercury e a OMC (Marine Corporation). A Mercury fabricava o poderoso motor T4 que era um motor V6 2 tempos de 4 litros com injeção e era usado por várias equipes que formavam a classe ‘ON’. Já a OMC fabricante dos motores Johnson e Envirude, tinha seus motores equivalentes ao T4 da Mercury, que eram motores V8 2 tempos de 3.5 litros e 400 cavalos de potência que formava a principal motorização da classe ‘OZ’. Tradicionalmente, a classe ‘OZ’ era uma categoria de tecnologia experimental e muitos pilotos achavam que a classe deveria permanecer com esta característica em vez de se tornar a principal categoria de corridas da motonáutica. As duas classes se achavam no direito de possuir o título de Fórmula 1 e foi aí que a UIM (Union Internationale Motonautique) se viu obrigada a intervir para acabar com a disputa das duas categorias unificando seus principais campeonatos que eram realizados na América do Norte e Europa de maneira totalmente independente um do outro. No início de 1981 a UIM sancionou oficialmente o Campeonato Mundial de Fórmula 1 utilizando os regulamentos que compunham a classe ‘OZ’. A decisão foi realizada através do apoio da John Player Special, que fechou um contrato de patrocínio de três anos com a classe ‘OZ’. A classe ‘ON’ acabou ficando com o título de Fórmula Grand Prix, conhecida anteriormente como FONDA (Fórmula ON Drivers Association) 2 Litros World Series que anos mais tarde se tornou a Fórmula 2. A partir da criação da Fórmula 1 de motonáutica, as provas passaram a ter apenas corridas de curta distância ao contrário do que havia anteriormente onde eram misturadas durante a temporada provas de endurance e circuitos curtos.

Os barcos eram fabricados apenas em madeira e no decorrer das décadas foram sendo aprimorados com o desenvolvimento tanto na parte aerodinâmica como na questão de segurança passando a ter cockpit fechado — semelhante a um Caça F15 — e sua construção de fibra de carbono e kevlar com a leveza da madeira, mas muito mais resistente. Após vários acidentes fatais e até então considerado o esporte mais perigoso do mundo, uma célula de sobrevivência foi criada capaz de suportar impactos de 3 000 newtons onde após acidentes a 250 km/h, geralmente os pilotos saem ilesos. Além da célula de sobrevivência, os barcos passaram a ter airbag em cima do cockpit — que em caso de acidente infla deixando o cockpit acima da linha da água. Já os pilotos obrigatoriamente usam além dos tradicionais equipamentos de proteção como macacão, capacete, salva-vidas, cinto de 6 pontos dentre outros, o Spare air ou outro tipo de sistema de respiração para emergência.

Atualmente estes barcos medem de 5 a 6 metros de comprimento dependendo do fabricante e seu peso completo com motores de 450 cavalos chegam a 380 kg. Sua velocidade máxima é de 250 km/h devido ao circuito curto atingindo de 0 a 160 km/h em menos de 4,5 segundos e nas curvas atingem a espantosa medida de 5G (força de gravidade) quase o dobro de um carro de Fórmula 1 e se igualando a um caça. Algumas equipes usam motores 4 tempos, mas a maioria das equipes usam motores 2 tempos que tem apresentado indiscutivelmente melhor performance. Ao contrário dos carros que de acordo com a previsão do tempo, temperatura da pista e tipo de curvas e asfalto são escolhidos pneus diferentes para fazer seu acerto, nos barcos são as hélices que fazem a principal diferença de acerto conforme o peso, densidade e agitação da água. A sensação de acelerar um barco destes a 250 km/h é o mesmo que acelerar um carro a 500 km/h e com um agravante, a cada volta a pista se torna diferente devido as marolas dos barcos que se espalham pelo circuito lembrando que a água não é uma pista lisa como o asfalto e sim, semelhante a uma pista de terra como em uma corrida de ralie. Os circuitos geralmente medem 2 000 metros de percurso por volta com pequenas retas e curvas para a direita e esquerda sendo marcadas por boias coloridas e sua largada é feita a partir de um píer com os barcos alinhados um ao lado do outro sendo que após a largada cerca de 20 barcos correm em direção a mesma boia tornando a parte mais perigosa de uma corrida que dura aproximadamente 45 minutos.

O cronograma das corridas se assemelham a dos carros com o primeiro dia treino livre, segundo dia treino livre e tomada de tempo e no terceiro dia warm up finalizando com a corrida.

Hoje o campeonato mundial de Fórmula 1 de motonáutica se chama F1H2O apesar de temos vários campeonatos regionais de F1 que acontecem na América do Norte, Europa, Ásia, África e Oceania com barcos e motores semelhantes, mas não com a mesma tecnologia como por exemplo uma pequena caixa de direção que custa aproximadamente U$ 20 000.

O campeonato acontece entre a Europa e Oceania devido a sua logística com raras exceções que aconteceram durante alguns anos como no Brasil em 2013. Com a entrada das equipes Árabes no circuito da F1H2O como o Team Abu Dhabi e o Team Qatar, o calendário anual passou a incluir várias provas nos países Árabes e as provas que aconteciam na Europa começaram a desaparecer gradativamente do calendário até pararem com a última em 2011 em Portimão (Portugal). A partir deste ano foi retomado o circuito na Europa com Grande Prêmio na França e outro em Portugal.

O investimento das equipes Árabes foi tão grande nos últimos tempos que a F1H2O passou a limitar os motores colocando regras de preparação dos mesmos para tornar as equipes mais competitivas, mas não pense que a velocidade diminuiu, apenas parou de aumentar e se você pensa em sentar em um cockpit destes, é bom lembrar que mesmo com toda a segurança que existe hoje, você vai ter que ter preparação física e psicológica para largar com 20 barcos ao seu lado e quando der 1 minuto para a largada vai escutar o barulho do fechamento do cockpit dos barcos, fazendo com que o calor interno aumente e o coração dispare. Neste momento é preciso esperar as luzes se acenderem uma a uma e quando todas estiverem acesas, elas se apagarem indicando o sinal de largada. Você deve estar preparado para ouvir o som dos 20 motores que começam a soar ao mesmo tempo em rotação acima dos 10 mil giros e todos chegarem lado a lado, em aproximadamente 5 segundos, a velocidade de 200 km/h na primeira boia para aí fazer a primeira curva a esquerda, abaixando o nariz do barco para fazê-la mais fechada e rápida possível, e seu corpo sofrer uma pequena força de gravidade de 5G, para logo em seguida os bicos levantarem na reta no limite levando em conta as rajadas de vento e as marolas para que ele não acabe decolando e dar o famoso looping, tudo isto no meio de muito spray de água que fazem você pilotar sem enxergar nada por alguns segundos sem saber o que vem pela frente e estar preparado para tomar decisões em fração de segundos, pois cada volta você chega a fazer em menos de 45 segundos. Esta é a F1 dos barcos.

 

Lebos Chaguri é piloto e especialista em barcos de corrida

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